Construindo os alicerces das políticas culturais no Entorno
26 abril 2024 às 11h26
COMPARTILHAR
Durante o governo de Ronaldo Caiado (UB), a cultura passou a ter maior protagonismo, com a recriação da pasta voltada exclusivamente à gestão do setor. De lá para cá, vários nomes se revezaram na titularidade da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás (Secult Goiás), como Edival Lourenço, Adriano Baldy, César Moura e Marcelo Carneiro. Em 2023, foi a vez de Yara Nunes, que já atuava como superintendente de Gestão Integrada na Secult, assumir o comando da pasta.
Segundo ela, a Secretaria, nos últimos anos, recuperou sua credibilidade e quitou todas as dívidas, as quais estavam em torno de R$ 64 milhões, no final de 2018. Sua intenção, agora, é colocar em prática mais ações voltadas aos artistas em situação de vulnerabilidade social, inclusive os do Entorno.
De acordo com a secretária, o trabalho cultural na região ainda é de construção, sendo muitas das atividades realizadas em parceria com a Secretaria de Estado do Entorno do Distrito Federal (SEDF-GO), possibilitando que diversos projetos cheguem com mais facilidade aos municípios.
Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, Yara Nunes cita algumas das principais iniciativas da pasta, em especial os Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUs) da Cultura, que vão ser construídos em cinco municípios circunvizinhos ao Distrito Federal e devem ajudar a alavancar significativamente o cenário cultural na região.
Luciana Amaral – Poderia contar um pouco de sua trajetória na Secult?
Yara Nunes – Eu estou como secretária desde janeiro de 2023, mas já ocupava o cargo de superintendente de Gestão Integrada durante todo ano de 2022. Nesse período, a gente conseguiu fazer muita coisa, pagar dívidas e recuperar a credibilidade dos festivais e dos nossos editais. Durante esses quase três anos na Secretaria, sendo parte como superintendente e parte como secretária, deu para mudar muito o perfil do que vinha sendo realizado aqui. Mas ressalto que tudo isso foi sob orientação e com toda a confiança do governador Ronaldo Caiado e da primeira-dama Gracinha Caiado. Nosso foco, a partir de agora, como já estamos com as dívidas quitadas, é direcionar muitas das ações, atividades e contrapartidas para o social, demonstrando que a cultura e a Secult fazem parte do Goiás Social. Então, com isso, queremos atingir aqueles artistas que muitas vezes estão em situação de vulnerabilidade ou se encontram em regiões consideradas de vulnerabilidade. Queremos que eles tenham a possibilidade de receber nossos recursos, para que possam trabalhar com sua arte.
Luciana Amaral – Esses artistas em situação de vulnerabilidade têm noção do apoio que podem obter da Secult?
Yara Nunes – Muitas vezes não, e é aí que entra o nosso trabalho. Estamos começando a realizar algumas buscas ativas, para que não fiquemos esperando esses artistas chegarem até à Secult, mas que a Secult consiga mapear o maior número possível desses trabalhadores da cultura. Esses artistas às vezes nem têm noção de que podem receber esses recursos, ou não sabem como escrever e inscrever projetos culturais. Então, é parte do nosso desafio encontrar esses artistas e conseguir fazer com que esses recursos cheguem até eles.
Luciana Amaral – Quais são os projetos da Secult voltados ao desenvolvimento da cultura no Entorno?
Yara Nunes – Temos feito por lá um trabalho de construção e bem de inicialização mesmo, porque a gente sabe que o Entorno ficou por muito tempo meio “largado” por gestões passadas. Havia até aquela piadinha de mau gosto, do “nem nem”, e a cultura acabou sendo prejudicada também com isso. Mas nós conseguimos recentemente cadastrar diversos projetos do Entorno para implementação dos CEUs da Cultura, que são espaços e equipamentos de uso cultural. Eles foram aprovados em vários municípios: Águas Lindas de Goiás, Luziânia, Cidade Ocidental, Padre Bernardo e Santo Antônio do Descoberto, que vão receber, cada um, R$ 2 milhões para a construção desses equipamentos. Então já é algo que vai ficar para a região. Além disso, conseguimos resgatar as Cavalhadas de Luziânia, que ficaram muito tempo sem ser realizadas no município. As cidades que já mencionei, além de Corumbá, receberam recursos tanto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), quanto da Lei Aldir Blanc. Agora temos também a Aldir Blanc II e estamos tentando fazer editais mais regionalizados que, com certeza, irão atender também a região do Entorno.
Luciana Amaral – Em relação aos CEUs da Cultura, eles estão entre os 11 projetos aprovados dos 13 cadastrados pela Secult no PAC para Cultura, correto?
Yara Nunes – Isso mesmo, mas quem cadastrou os projetos e fez a escolha dos cadastros foi a Secult. É importante reforçar também que esse trabalho foi feito em parceria com a Secretaria do Entorno, que realizou um mapeamento, facilitando demais esse processo, o qual resultou na aprovação dos projetos das cidades mencionadas. Quando os CEUs da Cultura estiverem prontos em todos esses municípios do Entorno, o nosso objetivo é dar um suporte para que, pelo menos, por um ou dois anos, essas prefeituras tenham o apoio do estado para conseguir movimentar esses espaços, porque a gente não sabe que não é fácil fazer a gestão e manutenção desses equipamentos culturais.
Luciana Amaral – Qual a importância desses Centros para desenvolver a cultura na região do Entorno?
Yara Nunes – Quando a gente fala em equipamento cultural, não é somente ter um prédio, mas um lugar onde as pessoas sabem que vão conseguir produzir ou consumir cultura. Uma vez que não existem equipamentos, que não há alguns fomentos específicos em municípios, os artistas tendem a procurar outras cidades e até mesmo outros estados. Então, os equipamentos nos municípios fazem com que os artistas permaneçam ali, produzam ali e ajudem a aumentar, inclusive, o fluxo turístico, movimentando toda a cadeia produtiva.
Luciana Amaral – Quando se fala em trabalhar e produzir cultura nesses locais, a ideia é abarcar todo tipo de manifestação cultural?
Yara Nunes – Envolve a formação e realização de exposições, espetáculos e shows, mas pode haver, ainda, atividades formativas e vir grupos ou pessoas de outras localidades para também trabalhar e produzir ali. É um universo de possibilidades culturais que acabam surgindo. Isso estimula a formação de plateia, estimula o empreendedorismo e estimula pessoas a trabalharem com economia criativa. Então, às vezes, parece que é só a construção de mais um prédio, mas não é: é toda uma política pública voltada para a cultura e para o turismo que começa a surgir naquela região.
Luciana Amaral – Como funciona a parceria da Secult com a Secretaria do Entorno?
Yara Nunes – O governador Ronaldo Caiado nos dá muita liberdade para trabalhar e a equipe de secretários é muito técnica. Então, por conta dessa liberdade, juntamente com a capacidade e competência de todos os secretários, conseguimos fazer ações transversais. No caso do Entorno, quando tivemos acesso aos editais, ao cadastramento dos CEUs, entramos em contato com a secretária Carol (Caroline Fleury, secretária do Entorno), porque sabíamos que ela estava diariamente falando com as prefeituras, com todos os agentes. Então, ela conseguiu fazer um mapeamento de todas as informações que os municípios precisavam passar para a gente, para esse cadastramento. Por conta disso, fizemos esse processo de forma muito rápida, possibilitando a aprovação dos cinco municípios. Eu sempre digo e repito: se não fosse o trabalho em parceria da Secult com a Secretaria do Entorno, talvez nem metade dessas cidades tivesse obtido a aprovação dos CEUs.
Luciana Amaral – A Lei Paulo Gustavo contemplou alguns projetos culturais em cidades do Entorno. E Goiás foi, inclusive, o estado do Centro-Oeste que utilizou mais recursos da lei. Como a Secult tem trabalhado nesse sentido?
Yara Nunes – No ano passado, antes que os editais da Paulo Gustavo saíssem, a Carol juntou todos os secretários e gestores da cultura das respectivas prefeituras e eu fui lá para conversar com eles, a fim de dar as orientações. Mesmo com dificuldade, os municípios conseguiram elaborar os seus editais, conversaram entre si e receberam os recursos para viabilizar os projetos.
Luciana Amaral – Quais outras leis de incentivo têm sido utilizadas para beneficiar a cultura no Entorno?
Yara Nunes – Além da Lei Paulo Gustavo, tivemos a primeira Lei Aldir Blanc; o Programa Goyazes, cujas inscrições ainda estão abertas; o Fundo de Arte e Cultura (FAC), que abre nas próximas semanas; e a Política Nacional Aldir Blanc que seria, entre aspas, a “Lei Aldir Blanc II”. Todas essas podem abarcar artistas do Entorno.
Luciana Amaral – Como a Secult trabalha para incentivar as manifestações da cultura popular, como é o caso das Cavalhadas em Luziânia?
Yara Nunes – As 15 Cavalhadas realizadas no estado são custeadas pela Secult. Este ano estão sendo investidos R$ 4 milhões. Em 2023, em Luziânia, tivemos uma primeira edição de resgate do evento e, desta vez, ele já passa a fazer parte do calendário da cidade e de todo o circuito estadual. Em relação às demais festas populares tradicionais, conseguimos também dar apoio por meio de nossas leis de fomento e incentivo. Estamos trabalhando para que seja disponibilizado um edital específico para essas tradições, dentro do Fundo de Arte e Cultura.
Luciana Amaral – Em junho haverá a segunda edição da Feira #NoEntornoTem. A Secult tem alguma participação nesse evento?
Yara Nunes – Temos, mas de forma indireta, justamente como apoio ao trabalho da Secretaria do Entorno, que é a grande realizadora dessa feira. Vamos fazer como na primeira edição, deixando nossa equipe de prontidão para dar as devidas orientações. Se for necessária alguma participação mais efetiva, para que a gente precise estar presente fisicamente, com certeza nós estaremos lá.