Cooperativa em Novo Gama se destaca na produção de tipo de mandioca mais rentável
12 setembro 2024 às 12h49
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Quem disse que terreno pedregoso e cheio de cascalho não combina com agricultura? Pois 16 agricultores da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Novo Gama (Coopgam), com apoio da Embrapa, conseguiram provar que dá, sim, para plantar nesse tipo de solo, muito comum no Entorno do Distrito Federal. E o melhor: com muita rentabilidade. Trata-se, neste caso, de uma variedade da mandioca, a japonesinha, que se adapta bem nesse terreno e ainda produz mais do triplo por hectare do que a média nacional de produção das variedades mais comuns no mercado.
O presidente da Coopgam, Licindo Passos, mostra-se bastante otimista quanto a esse produto, que pode transformar Novo Gama na “capital da mandioca” no país. Já são 16 cooperados investindo na japonesinha e a primeira safra, correspondente a 800 toneladas, chega ao mercado em outubro. Em breve, o número de produtores dessa mandioca na cooperativa vai chegar a 50 e, segundo Licindo, há uma grande demanda para essa variedade de mesa que promete conquistar muitos consumidores da região.
Além disso, com a mediação da Secretaria de Estado do Entorno do DF (SEDF-GO), a cooperativa deverá aderir ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) estadual.
Em entrevista ao Jornal Opção Entorno, Licindo conta como esse produto pode vir a trazer grande impacto na renda de agricultores cooperados e contribuir para o desenvolvimento do município.
Luciana Amaral – Quando começou esse processo de produção de mandioca utilizando um solo pedregoso, comum no Entorno?
Licindo Passos – Tudo começou com a cooperativa, fundada há dois anos e fruto da união de três associações de pequenos produtores da zona rural de Novo Gama, os quais cultivavam hortaliças, principalmente. Chegou-se à conclusão de que, com a cooperativa, a comercialização seria mais profissional. Então, vimos a necessidade de eleger um produto que pudesse atender a iniciativa privada, os supermercados da região, não só o mercado institucional. Um dos cooperados estava produzindo mandioca e ele já era acompanhado pela Embrapa, a grande pesquisadora do agro brasileiro. Vimos que havia uma boa rentabilidade do produto, pois era uma mandioca desenvolvida para o Cerrado. E, na época, pensávamos que só se produzia mandioca em terra mais “fofinha”, terra vermelha.
Luciana Amaral – É a mandioca japonesinha, correto?
Licindo Passos – Isso mesmo. É uma mandioca com alto teor de betacaroteno, responsável pela coloração amarelada. Estudamos mais sobre isso, fizemos alguns cursos e vimos que ela tem um alto rendimento. Enquanto a média nacional é de 14 toneladas por hectare, a japonesinha produz acima de 50. Portanto, é um rendimento bastante elevado. Com o tempo, fomos conscientizando os cooperados e mostrando o potencial de produção e lucratividade.
Luciana Amaral – Quais as vantagens da cooperativa em relação à associação?
Licindo Passos – Uma cooperativa, diferentemente de uma associação, tem como objetivo fazer o cooperado lucrar. Todos são donos, empreendedores. A cooperativa trabalha viabilizando a criação de riqueza, proporcionando melhor qualidade de vida em grupo, por meio da colaboração, porque parte do princípio de que uma pessoa só não tem muito poder de barganha, de comprar um insumo mais barato, de atender a uma grande rede de mercado. Já na cooperativa, tudo isso fica bem mais fácil.
Luciana Amaral – Quantos hectares são utilizados na plantação de mandioca?
Licindo Passos – Chegamos hoje a uma área de plantio de 16 hectares. Considerando que cada hectare produz umas 50 toneladas, a previsão é colher 800 toneladas. Nossa primeira colheita acontecerá em outubro, sendo este o nosso primeiro projeto.
Luciana Amaral – Há previsão de ampliação da área de plantio?
Licindo Passos – Este ano, a previsão é de triplicarmos esses 16 hectares, de termos pelo menos 50 hectares plantados. O pessoal já está começando a preparar o solo. A gente segue todo um ritual de manejo, de análise de solo, correção, adubação e sempre estamos em busca de conhecimento. Semana passada fizemos um curso de panificação e, nas semanas anteriores, houve dois cursos de cultivo de mandioca. Então, buscamos essas capacitações para melhorar o nosso projeto.
Luciana Amaral – Esse curso de panificação foi voltado à utilização de mandioca como ingrediente?
Licindo Passos – Sim, utilizamos mandioca. Com esse produto, é possível fazer bolo, pão, sorvete, brigadeiro e muito mais.
Luciana Amaral – Ou seja, é possível diversificar as possibilidades de comercialização do produto.
Licindo Passos – Exato. A gente agrega valor. Inclusive, acabamos de adquirir uma máquina de embalagem a vácuo e ela agrega pelo menos 60% no valor da mandioca in natura.
Luciana Amaral – Essa mandioca apresenta características muito diferentes daquela tradicional?
Licindo Passos – A mandioca japonesinha apresenta uma textura mais cremosa, macia. Existe mandioca no mercado também amarela, mas de outra variedade, que é mais seca. Nós, aqui, fazemos testes por meio da Embrapa, que utiliza alguns produtores daqui como homologadores. O processo funciona da seguinte forma: as variedades que estão em teste na Embrapa são testadas no solo daqui. Como eles estão nos acompanhando, fazemos, em contrapartida esses testes com a mandioca. E temos outras variedades sendo pesquisadas.
Luciana Amaral – Qual outra boa variedade foi desenvolvida a partir desses testes?
Licindo Passos – Temos a BRS 429, que está aprovada e, inclusive, já se encontra disponível para comercialização. É uma mandioca que rende mais, mas tem uma característica diferente da japonesinha, que já é bem aceita no mercado. A BRS 429 é uma variedade muito boa, da Embrapa, que também foi desenvolvida para a nossa região, de terreno com mais cascalho.
Luciana Amaral – Essa japonesinha já tem disponível no mercado, então?
Licindo Passos – Sim, já tem disponível, mas os nossos 16 produtores estão produzindo uma específica, sem mistura com outras variedades. Nós queremos tornar a nossa mandioca especial, porque vamos comercializar um produto certificado. E o cliente vai ter certeza de que aquela mandioca que ele está comprando não tem um pedaço de uma variedade e um pedaço de outra.
Luciana Amaral – Vocês vão começar a vender já em outubro?
Licindo Passos – Sim, em outubro mesmo. Estamos construindo a nossa agroindústria, que é a área de manejo da mandioca, de processamento, em que é só descascar e preparar para a embalagem a vácuo.
Luciana Amaral – O senhor falou em 16 produtores, mas são quantos cooperados no total?
Licindo Passos – Temos 50 cooperados hoje. No ano passado só entraram 16 produzindo mandioca. Porém, os demais devem entrar nessa produção ainda este ano, para a segunda safra.
Luciana Amaral – Há algum apoio da Prefeitura de Novo Gama ao trabalho da cooperativa?
Licindo Passos – A Secretaria de Agricultura disponibiliza o trator para a gente arar a terra e só pagamos o combustível, que é o óleo diesel. Mas nem sempre é possível atender a todos, porque são diversas outras propriedades rurais que também necessitam disso. A gente vai usando aquilo que dá. O que não dá, apelamos para o pessoal que presta o serviço na região.
Luciana Amaral – Em quais localidades pretendem vender a mandioca japonesinha?
Licindo Passos – Nossa intenção é vender em Novo Gama e em Brasília. No caso de Novo Gama, queremos fechar parceria com algumas redes de supermercados. Estamos plantando mais, para termos uma venda escalonada e que atenda o ano inteiro. De acordo com uma pesquisa que fizemos, existe uma demanda muito grande no mercado, mas precisamos ter cuidado, também. Estávamos numa reunião com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e falamos sobre isso, a respeito da necessidade de planejarmos, para não nos comprometermos além de nossa capacidade.
Luciana Amaral – E quais ações pretendem fazer para divulgar o produto e chamar a atenção dos consumidores?
Licindo Passos – Temos nosso Instagram, @coopgam.novogama, onde divulgamos nossas ações, e tivemos a primeira reunião este mês para fazer o nosso site. Pretendemos também criar um e-commerce, porque hoje é a tendência, né?! Todos nós temos de utilizar a tecnologia para darmos um up no desenvolvimento da nossa empresa. E eu falo empresa, porque a cooperativa a gente trata como empresa, mesmo. Apesar de ter esse cunho social, de auxiliar a agricultura familiar para a geração de renda, existe uma parte empreendedora, de viabilizar o elo entre o produtor da agricultura familiar e o consumidor da ponta. Quando a gente entra numa empreitada dessas, temos de ter a certeza de que estamos contribuindo para o desenvolvimento do município, do estado e, por que não, do Brasil. Queremos fazer parte do PIB.
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