Quando a expansão ameaça a missão: BRB e os riscos da compra do Banco Master

05 abril 2025 às 11h37

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Por Márcio Aguiar*
Em meio ao anúncio da transação, surgiram reações de diversos setores, desde sindicatos até o Ministério Público do DF (MPDF) e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), que questionam os detalhes da operação e também o modelo de governança adotado para uma iniciativa dessa magnitude.
O BRB, ao longo dos anos, construiu uma imagem de proximidade com o cidadão brasiliense, oferecendo crédito, fomento e serviços bancários com viés social e estratégico. Por essa razão, cada decisão que envolve sua estrutura patrimonial precisa ser analisada com o máximo de cautela e transparência. Ao anunciar a compra de um banco privado que, segundo denúncias, possui histórico de litígios e relações sensíveis no Judiciário, o BRB levanta dúvidas sobre a viabilidade, os riscos e as reais motivações da operação.
Deste modo, a preocupação maior está relacionada ao uso dos recursos públicos. A aquisição de uma instituição privada não é uma movimentação comum para bancos regionais públicos, especialmente quando envolvem cifras bilionárias. O impacto nos cofres públicos, embora indireto, pode ser profundo, seja na forma de passivos ocultos, seja pela exposição a ativos de difícil avaliação. A transparência, portanto, precisa ser absoluta — não apenas no momento do anúncio, mas em todas as etapas de análise, auditoria e aprovação da compra.
É nesse ponto que os órgãos de controle exercem um papel indispensável. A manifestação do Ministério Público e da CLDF não deve ser lida como entrave político, mas como exercício legítimo de vigilância democrática. O mesmo vale para o posicionamento do Sindicato dos Bancários, que alerta para riscos de desvio de função e perda do caráter regional do banco. Em vez de resistir ao debate, o BRB e o Governo do Distrito Federal têm a oportunidade de fortalecer os pilares institucionais, prestando contas à população e garantindo que decisões estratégicas não comprometam o futuro da instituição.
O patrimônio do BRB não é apenas contábil. Ele representa segurança, estabilidade e um modelo de gestão pública que, ao longo do tempo, conquistou a confiança dos cidadãos do DF. Arriscar essa trajetória sem um amplo debate público, técnico e político é um caminho que merece ser revisto.
Em suma, a credibilidade de uma instituição pública não se constrói apenas por resultados financeiros, mas pelo respeito às suas finalidades constitutivas e pela coerência com sua missão. O fortalecimento do BRB passa por inovação e expansão, sim, mas sem abrir mão da cautela institucional e, principalmente, da transparência que o serviço público exige.
*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político
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