A complexidade das redes de corrupção no Entorno

27 janeiro 2025 às 14h38

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O Índice de Percepção da Corrupção (IPC), desenvolvido pela Transparência Internacional desde 1995, representa um dos principais indicadores globais de corrupção, avaliando 180 países e territórios em uma escala de 0 a 100, onde notas mais altas indicam maior integridade percebida. No último relatório, o Brasil registrou uma significativa queda, perdendo 2 pontos e ocupando a 104ª posição, uma redução de 10 lugares no ranking, que ressalta a necessidade urgente de medidas eficazes para a mitigação da corrupção no país.
Em 2023, o mesmo instituto identificou falhas na reconstrução dos mecanismos de controle da corrupção e no sistema de freios e contrapesos democráticos. Embora ainda não avalie municípios de uma região específica, as questões são muito semelhantes, especialmente em relação ao abuso de poder e à falta de punição eficaz.
Em âmbito federal, muito embora a Comissão de Segurança Pública (CSP) tenha aprovado o projeto, que tornou imprescritíveis os crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro (PL 5.236/2020), muito falta em termos de “supervisionamento” em todo o país.
Segundo Meiranny Reis (PP), moradora de Santo Antônio do Descoberto, diversos fatores contribuem para esse tipo de crime, definido, em linhas gerais, como o ato de oferecer ou receber vantagens indevidas no âmbito da Administração Pública.
Ela pontuou: “A falta de transparência em contratos e processos licitatórios facilita a corrupção. Além disso, a morosidade das instituições, agravada pelo excesso de demandas, e a cultura de impunidade são desafios significativos. Muitos casos não são punidos e a complexidade das redes de corrupção dificulta as investigações”.

Meiranny também criticou a omissão do Poder Legislativo: “Os vereadores, na maioria das vezes, não exercem corretamente sua função principal, que é fiscalizar o uso do dinheiro público. Soma-se a isso a falta de participação cidadã no controle da gestão pública”.
Para Adenilson dos Santos Silva Filho, morador de Águas Lindas de Goiás, um dos maiores problemas está na falta de independência entre os poderes Legislativo e Executivo. “As câmaras de vereadores muitas vezes não têm autonomia. Os parlamentares eleitos frequentemente se tornam secretários de governo, formando um único bloco que serve ao Poder Executivo. Além disso, o nepotismo cruzado é recorrente, com parentes de vereadores ocupando cargos no Executivo e vice-versa. Isso abre portas para a corrupção”, frisou.
Práticas suspeitas
Durante seu mandato como vereadora, Meiranny denunciou diversas práticas suspeitas de ilicitude. “Suspeitei de nepotismo, conflitos de interesse, fraudes, desvios de recursos, superfaturamento, corrupção eleitoral, entre outros. Fiz diversas denúncias às autoridades competentes. Algumas surtiram efeito, mas outras continuam sendo apuradas. É tudo muito velado e as pessoas têm medo de testemunhar. É uma luta contra um sistema que se protege e pune o povo”, explicou.

Adenilson reforçou a importância do papel do Ministério Público na fiscalização e combate à corrupção. “A atuação contra a corrupção é basicamente feita pelo Ministério Público. A criação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) na região é um mecanismo importante, pois o Ministério Público exerce melhor o controle e a fiscalização nos municípios do Entorno”, disse.
Combate à corrupção
Para Meiranny Reis, é essencial fortalecer o acesso à informação. “É necessário criar portais eficientes, com informações claras e acessíveis. Além disso, precisamos promover uma cultura de transparência em todos os âmbitos da sociedade, usar a tecnologia para facilitar a divulgação de dados e aperfeiçoar a legislação”, defendeu a ex-vereadora.
Já o advogado Adenilson destacou o papel preventivo dos parlamentares. “A fiscalização das contas municipais é a principal função da Câmara de Vereadores. Uma câmara independente pode atuar de forma preventiva, com organismos como os conselhos comunitários e de saúde. Além disso, é necessário que o Judiciário atue com maior celeridade para julgar casos de improbidade administrativa e recuperar prejuízos aos cofres públicos”, explicou.
Participação popular
A participação cidadã na luta contra a corrupção é fundamental, mas ainda enfrenta desafios. “Muitos cidadãos têm despertado para essa prática tão positiva, mas a descrença na classe política é um obstáculo importante. A falta de transparência e a cultura de impunidade também dificultam o combate à corrupção”, finalizou Meiranny.
Por sua vez, Adenilson destacou que a lentidão dos processos também desmotiva a população. “Quando as responsabilizações demoram anos, muitas vezes o gestor já saiu do cargo e os prejuízos não são recuperados. Isso reduz a confiança das pessoas no sistema de justiça”, concluiu.
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