Este ano, só no Estado de Goiás, houve mais de 13 mil casos de dengue notificados, um aumento de 100% em relação ao mesmo período de 2023. Em diversas cidades do Entorno, entre elas Águas Lindas e Padre Bernardo, há uma incidência de mais de 300 casos a cada 100 mil habitantes. O Distrito Federal, por sua vez, passa por uma situação ainda mais alarmante: o último Boletim Epidemiológico, que traz informações até o dia 20 de janeiro, computou mais de 16 mil casos prováveis, o que representa um crescimento de 646,5%, ao se comparar com o mesmo período do ano passado. Diante dos números alarmantes, os quais já começam a se configurar como uma epidemia, o Ministério da Saúde convocou ontem uma reunião emergencial no auditório do Conass “Adib Jatene”, em Brasília, com representantes de oito municípios do Entorno, do DF e de Goiás, incluindo o titular da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Rasível dos Reis, além da secretária de Estado do Entorno do DF (SEDF-GO), Caroline Fleury.

O evento foi liderado pela ministra da Saúde Nísia Trindade, a qual reconheceu que é preciso uma ação conjunta em todo o país, especialmente no que tange à gestão da saúde pública durante emergências. Ela salientou, ainda, que a população deve participar desse desafio: “É fundamental destacar que 75% da transmissão ocorre dentro das residências, ressaltando a importância da colaboração entre o governo e os cidadãos para preservar esse ambiente”.

O evento contou com a presença de secretários de Saúde de vários municípios goianos, do Estado de Goiás e do DF (Foto: Marco Monteiro)

As vacinas estão chegando

A ministra prometeu a entrega das primeiras doses de vacinas já no início de fevereiro para 521 municípios brasileiros. Destes, 134 são de Goiás, incluindo várias cidades do Entorno: Águas Lindas, Luziânia, Valparaíso, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto, Cidade Ocidental, Cristalina, Cocalzinho, Alexânia, Abadiânia, Pirenópolis, Corumbá, Formosa, Planaltina de Goiás, Alto Paraíso, São João d’Aliança, Flores de Goiás, Cabeceira, Vila Boa e Água Fria de Goiás.

O público-alvo neste primeiro momento é de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e a SES-GO já está organizando, junto aos municípios, a capacitação dos profissionais que irão aplicar o imunizante, o qual tem ação contra os quatro sorotipos da dengue. O esquema será de duas doses, com intervalo de três meses entre elas.

Recursos para os municípios

Durante o encontro no auditório do Conass, a coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, Livia Vinhal, por sua vez, chamou atenção não só para os casos de dengue, como também os de chikungunya, que teve um crescimento muito expressivo em Goiás: 1.205%. Para ela, isto significa uma preocupação adicional para o DF e o Entorno, que estão no centro das atenções, no que se refere às arboviroses.

Já Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, destacou que o Entorno é, de fato, uma das áreas do estado com a maior taxa de crescimento de casos de dengue, especialmente do tipo 2. Por esta razão, a reunião contou com a participação de vários representantes da região. Estiveram presentes os secretários municipais de saúde Evandro Soares (Águas Lindas de Goiás), Guilherme Davi da Silva (Novo Gama), Gilmar Meneses (Cocalzinho de Goiás), Alessandro Viana (Santo Antônio do Descoberto), Glênio Magrini (Luziânia) e Vilmar de Jesus (Padre Bernardo), além dos superintendentes em Saúde Eliane de Paiva (Cidade Ocidental) e Paulo César (Valparaíso).

Eles puderam expor as principais dificuldades no combate ao Aedes aegypti e no tratamento dos infectados. Alguns dos problemas mencionados foram a dificuldade com os exames laboratoriais, a obtenção de insumos e a sobrecarga de internados nos hospitais.

Gilmar Meneses: “Estamos fazendo nossa parte, mas precisamos de recursos financeiros” (Foto: Divulgação/ SEDF-GO)

Gilmar Meneses relata que os secretários municipais solicitaram, durante o encontro, recursos financeiros para contratação de pessoal e compra de soro e medicamentos. “Nas últimas quatro semanas, tivemos 324 pessoas suspeitas de dengue em Cocalzinho. Os hospitais e Unidades Básicas de Saúde ainda estão lotados”, alerta Meneses. “Mas estamos fazendo nossa parte: decretamos estado de emergência há três semanas; aplicamos o fumacê com apoio da regional de Pireneus e do estado; fizemos o Dia D de combate à dengue; intensificamos o trabalho de conscientização da população, inclusive nas escolas; e os agentes de saúde estão indo de casa em casa para orientar as pessoas. Mas precisamos de recursos para nos ajudar nesse trabalho”, detalha.

Próximas ações

Após a reunião de ontem, foram definidas algumas ações, como visitas técnicas de reconhecimento para avaliar a complexidade da relação entre Goiás e DF no atendimento dos casos da doença.

A primeira visita foi agendada para hoje em Novo Gama (GO) e na região administrativa de Santa Maria (DF), com a participação de representantes do Ministério da Saúde, das Secretarias de Saúde e do Entorno do DF, bem como da Secretaria Municipal de Saúde de Novo Gama. Amanhã deverá ocorrer uma segunda visita, desta vez em Cidade Ocidental (GO) e Gama (DF).

A secretária do Entorno, Caroline Fleury, elogiou a iniciativa do Ministério da Saúde e enfatizou a necessidade de ações, mutirões e estratégias conjuntas. “Fora da ação integrada não há solução possível para combater o avanço da doença e do mosquito, que não escolhe cidade”, ressalta. “Precisamos fazer mutirões e dia D combinados com as regiões administrativas do DF. E precisamos desse apoio do Ministério principalmente na parte laboratorial, que é um dos principais problemas para os prefeitos”, conclui.