No coração do Entorno do Distrito Federal, a cidade de Luziânia guarda uma tradição doce e repleta de história: a marmelada artesanal. Entre os nomes que perpetuam essa herança está a família Melo. O legado tem origem com Vasco de Araújo Melo, pioneiro na produção da famosa Marmelada de Santa Luzia, reconhecida oficialmente como Patrimônio Cultural e Imaterial de Goiás.

Desde os primeiros passos na fabricação, ele envolvia toda a família no processo, transformando o trabalho em um verdadeiro ritual de união e aprendizado. Hoje, com mais de 200 anos de história, essa tradição segue viva. A receita da família Melo continua inalterada, preservando a autenticidade da marmelada entre os doces tradicionais produzidos na região de Luziânia. Com a partida de Vasco Melo, a tradição ganhou continuidade pelas mãos de sua filha, a produtora Márcia Melo, de 63 anos.

“Meu pai cultivava o marmelo e produzia a marmelada, uma receita que passou de geração em geração, desde os tempos do meu tataravô, Bernardo Gonçalves. Quando ele faleceu, senti profundamente o peso da responsabilidade de manter viva essa história. Não poderia permitir que a tradição se perdesse. Com muito carinho e orgulho, assumi a produção, garantindo que a essência da nossa família e o sabor que atravessa os tempos continuassem a ser vividos em cada pedaço da marmelada”, afirma Márcia.

O processo artesanal de fabricação da marmelada utiliza uma receita com mais de 200 anos de tradição

A produtora detalhou que todo o processo de fabricação é realizado de forma artesanal na Fazenda Meu Sonho, em Luziânia. “A produção da marmelada começa com a lavagem e preparo dos marmelos, que são cozidos, triturados e peneirados até formar uma massa fina, que depois é congelada e pode ser usada o ano todo. Minha produção é artesanal e demanda tempo, pois a marmelada precisa secar ao sol por três dias para formar a casquinha. Não é um processo industrializado, dá mais trabalho, mas faço com prazer e carinho para entregar um produto quase perfeito”. Márcia já tem alguns clientes fidelizados e comercializa o doce na loja de material de construção do irmão.

O histórico Quilombo Mesquita

O povoado de Mesquita, localizado na zona rural de Cidade Ocidental, é conhecido por sua forte tradição na produção de doces artesanais, especialmente a marmelada. Essa herança cultural transmitida de geração em geração, fortalece a identidade local e impulsiona a economia da região. Entre os produtores que mantêm vivo esse legado está Sinval Pereira Braga, de 70 anos, nascido no próprio povoado.

Sinval Pereira Braga: “Dessa tradição nasceu a Festa da Marmelada, que reúne a comunidade do quilombo todo janeiro, logo após a colheita”

Há 20 anos, após se aposentar do serviço público, ele decidiu investir no cultivo do marmelo e na produção artesanal do doce que marcou sua infância. “Desde muito cedo, com apenas 13 anos, já estava plantando e fazendo o doce, tudo ensinado pelo meu avô e meu pai. Hoje, na chácara, tenho 200 pés de marmelo para produzir polpas e doces de marmelada de forma artesanal”, contou Sinval, ressaltando a importância do marmelo para o povoado de Mesquita. “Não é só um fruto tradicional, mas também uma parte fundamental da cultura aqui da região. Dessa tradição nasceu a Festa da Marmelada, que reúne a comunidade do quilombo todo janeiro, logo após a colheita. A comemoração deste ano foi um sucesso e conseguimos vender toda a produção do doce de marmelada”.

Festa na Cidade Ocidental

O prefeito de Cidade Ocidental, Lulinha Viana (PP), reforçou a importância do doce de marmelo como elemento cultural e econômico da região. “A iguaria é um símbolo da cidade. Ela não só reflete nossa cultura, como também cria oportunidades de trabalho e sustenta diversas famílias”, disse.

Entusiasta da Festa do Marmelo, Lulinha comentou que o evento fortalece a identidade local e impulsiona o turismo e o comércio da cidade. “Este ano, como sempre, foi um enorme sucesso, superando todas as expectativas. Já estamos, inclusive, pensando na próxima edição, visando torná-la ainda mais memorável”. Um dos momentos mais esperados da festa é a Corrida do Marmelo, que neste ano reuniu mais de mil participantes, incluindo adultos, crianças e atletas com necessidades especiais.

Lulinha Viana na tradicional Corrida do Marmelo em Cidade Ocidental. Foto: Divulgação

O prefeito anunciou, ainda, que será encaminhado para a Câmara de Vereadores um novo projeto que visa melhorar as condições de trabalho no campo. De acordo com ele, os produtores rurais ganharão mais um importante auxílio com o projeto Porteira Dentro, que visa proporcionar suporte aos agricultores dentro de suas próprias propriedades. “O objetivo da iniciativa será oferecer apoio direto ao produtor em sua fazenda ou roça, auxiliando-o em diversas necessidades, como a manutenção de caminhos, roçagem e outros serviços essenciais, com o suporte do nosso maquinário”, explicou.

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