Em comemoração aos seus 165 anos, Planaltina promove hoje (19) seu tradicional desfile cívico e militar, com a participação de 40 grupos. Fundada em 1859, quando se denominava Distrito de Mestre d’Armas, a cidade traz uma peculiaridade que a difere de outras regiões administrativas no DF, pois ainda mantém antigas praças, casarões e igrejas, as quais representam a memória coletiva do lugar e são testemunhos vivos de uma trajetória que remonta ao século XIX.

Como patrimônio material, esses elementos não só preservam a identidade cultural local, mas também oferecem aos moradores e visitantes um elo direto com o passado. Eles são essenciais para entender o desenvolvimento de Brasília e do próprio DF, além de servirem como pontos de referência para a preservação da história e das tradições.

O titular da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF), Claudio Abrantes, frisa que a cidade, com mais de 200 anos, é um dos berços culturais do DF. “Ela preserva características únicas que antecedem a construção de Brasília e que refletem o espírito sertanejo da região. Planaltina é um mosaico de tradições, festas e arquitetura que compõem um patrimônio cultural inestimável”, afirma. “Celebrações como a Festa do Divino Espírito Santo, locais como o Vale do Amanhecer e as áreas históricas como o Morro da Capelinha e o Centro Histórico são fundamentais para a identidade cultural do Distrito Federal. Planaltina não só preserva essa herança, mas também a celebra com vigor, promovendo a integração da comunidade e atraindo visitantes de todo o país”, acrescenta.

Claudio Abrantes e o governador do DF Ibaneis Rocha durante a Festa do Divino em Planaltina (Foto: Agência Brasília/ Divulgação)

O secretário destaca, ainda, a forte tradição religiosa da região, que atrai milhares de visitantes anualmente. “O Vale do Amanhecer, por exemplo, é um movimento doutrinário fundado em Planaltina que hoje possui mais de 250 mil integrantes no DF e unidades em todo o mundo”, observa. “A encenação da Paixão de Cristo no Morro da Capelinha é outro evento de grande importância, mobilizando quase 2 mil atores e atraindo mais de 150 mil pessoas todos os anos”, complementa Abrantes, que já participou diversas vezes da encenação no papel de Jesus Cristo.

Cidades irmãs: uma no DF e outra em Goiás

Cristiomário Medeiros: “Há uma ligação muito forte entre as duas cidades” (Foto: Divulgação)

Outro aspecto interessante da região é sua conexão direta com Planaltina de Goiás, tendo em vista que, até 1960, era um único território. Na época, parte da cidade foi integrada ao DF e outra se tornou um município goiano do Entorno, conhecido popularmente como “Brasilinha”, hoje gerido pelo prefeito Cristiomário Medeiros (PP). “Há uma ligação muito forte entre as duas cidades, especialmente na questão de parentes e geração de emprego e renda. Muita gente de Planaltina de Goiás trabalha no DF, e muita gente do DF tem ligação familiar e algum tipo de relação comercial ou de trabalho com Planaltina de Goiás”, observa Medeiros. “São cidades irmãs: uma é região administrativa do DF e outra é município do Estado de Goiás, tendo uma relação de muita importância uma para a outra”, analisa.

Valorização do patrimônio histórico e cultural

Simone Macedo: “O museu ajuda a manter viva a memória da cidade” (Foto: Divulgação)

O Museu Histórico e Artístico de Planaltina desempenha um papel essencial na preservação e divulgação da história local, oferecendo à população e aos visitantes uma oportunidade única de se conectar com o passado. “O museu ajuda a manter viva a memória da cidade, celebrando suas tradições e contribuindo para a formação de uma identidade cultural robusta. É um espaço essencial para a valorização do patrimônio histórico e cultural de Planaltina e do Distrito Federal como um todo”, frisa Claudio Abrantes.

Já a produtora cultural, arte-educadora e fundadora da Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina, Simone Macedo, lembra que o museu é um bem tombado, oferecendo atividades culturais e de educação patrimonial à comunidade. Porém, lamenta a falta de conservação adequada do espaço. “Não temos um plano museológico, um regimento interno e um corpo de funcionários capacitados, infelizmente. O piano, por exemplo, atualmente se encontra em estado de conservação preocupante pela falta de profissionais capacitados para receber visitantes e fazer uma mediação técnica. E há grande infestação de cupins tanto nas peças do acervo quanto no prédio”, revela Simone.

Museu Histórico e Artístico de Planaltina (Foto: Acacio Pinheiro/ Agência Brasília)

Em relação ao acervo do museu, a produtora cultural destaca alguns itens, como a cozinha com fogão caipira e panelas de época. “Para alunos de arquitetura, arquitetos e historiadores, a edificação em si, com seus muitos cômodos, portas e janelas, já é um grande atrativo, além do quintal e o pé de manga centenário. Eu particularmente gosto muito do piano e de uma chapeleira muito bonita e conservada, que fica na sala principal”, detalha.

Simone conta que vive em Planaltina há mais de 30 anos e, mesmo antes disso, preocupava-se com a depredação dos casarões centenários. “O que me atraía era exatamente o contraste com o concreto do Plano Piloto, onde eu morava”, relembra. “Tendo fixado residência aqui e morando no Centro Histórico, fundei um movimento cultural de defesa desse patrimônio. Minha relação com Planaltina sempre foi de amor a esse espaço, que ainda mantém casarões íntegros, e, consequentemente, de zelo pelo ambiente”, conclui.

A Igreja de São Sebastião, erguida em 1890 por escravos, é um dos bens tombados em Planaltina (Foto: Acacio Pinheiro/ Agência Brasília)

À frente da Subsecretaria de Patrimônio Cultural da Secec-DF (Supac), Felipe Ramon alerta que não há ainda legislação específica sobre as praças, casarões e igrejas de Planaltina, mas aponta que a preservação é crucial para a compreensão e valorização da história local. “Também não há poligonal de tombamento, como é o caso da Vila Planalto, por exemplo. Apesar disso, existem bens tombados na região, como a Casa do Artesão, a Igreja de São Sebastião e a Pedra Fundamental. A equipe da Supac acompanha de perto a preservação desses bens, que estão sob responsabilidade dos proprietários”, esclarece.

Região com potencial turístico

Devido ao seu valor histórico e cultural, Planaltina tem também potencial turístico. “Sua riqueza histórica, aliada às tradições culturais e religiosas, oferece uma experiência autêntica e diferenciada aos visitantes. Com a devida valorização e promoção, esse patrimônio pode atrair turistas interessados em explorar uma Brasília que vai além dos marcos arquitetônicos modernistas”, analisa o chefe de comunicação da administração regional de Planaltina, Vinícius Amorim. “O turismo em Planaltina pode impulsionar o desenvolvimento econômico local, gerando empregos, estimulando o comércio e preservando a cultura da região”, complementa.

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