Suposto esquema de cirurgias em Águas Lindas envolve vereador do município

11 fevereiro 2025 às 12h42

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Uma moradora do município, que requisitou sigilo por medo de retaliações, denunciou que procedimentos cirúrgicos como histerectomias e remoções de vesículas estariam sendo realizados em Goiânia com a intermediação de uma pessoa próxima à chefe de gabinete do vereador citado. Essa pessoa “ajudaria” cidadãos a acessar essas cirurgias a um custo inferior ao dos hospitais privados. No entanto, segundo a denunciante, esses procedimentos eram pagos em dinheiro vivo e eram fraudulentamente registrados como se fossem realizados pelo SUS.
A denunciante se apresentou à reportagem como vítima da suposta negociação. Ela afirmou ter sido orientada a pagar R$ 3.800 em espécie para realizar a cirurgia no Hospital Santa Lúcia, em Goiânia. Ao chegar, foi informada de que seria uma “paciente da Beth” e que o procedimento seria feito como se fosse do SUS, com a documentação necessária assinada como parte do sistema público de saúde. No entanto, relatou que o pagamento foi privado e não houve qualquer formalização ou recibo que comprovasse o repasse.
“Quando cheguei ao hospital, a primeira coisa que disseram foi que eu era ‘paciente da Beth’. Eu não sabia quem era o médico responsável pela minha cirurgia e assinei os papéis como se fosse um procedimento do SUS, mas tudo foi pago em dinheiro vivo, sem recibo”, disse. “Eu não tenho como provar o pagamento, mas meu marido fez um saque que pode ser a única evidência disso”, complementou.
A vítima afirmou, ainda, que não teve qualquer contato com o médico responsável pela operação. “Eu fui sedada, mas nem vi quem me sedou. Os residentes é que vieram me atender. Quando perguntei quem me operou, um residente disse que não foi ele, mas outro médico, que, inclusive, me deu alta”, relatou. De acordo com ela, o processo de alta também foi feito de maneira informal, sem qualquer registro ou explicação detalhada sobre o pós-operatório. Além disso, a denunciante mencionou que assinou uma série de documentos que indicavam que o procedimento havia sido realizado pelo SUS, mas com uma cobrança particular.
Segundo ela, muitas pessoas na cidade estariam sendo atraídas por essas ofertas de procedimentos cirúrgicos “mais baratos” e rápidos, intermediadas por pessoas ligadas ao vereador Luis de Aquino. “As pessoas que precisam dessas cirurgias muitas vezes não conseguem esperar meses ou até anos no SUS. Então, acabam sendo levadas por essas promessas de que o atendimento pode ser feito mais rapidamente, mas o preço é alto”, concluiu.
O que diz o vereador
Por outro lado, o vereador Luís de Aquino, que exerce seu sétimo mandato como representante da Câmara Municipal de Águas Lindas, nega qualquer envolvimento com esquemas ilegais. Em entrevista concedida ao Jornal Opção Entorno, Aquino explicou que seu gabinete sempre procurou ajudar a população a obter acesso a serviços de saúde. “Eu não pego um real de ninguém. O que a gente faz é orientar as pessoas que estão precisando de uma cirurgia. Ajudamos a levar essas pessoas até o hospital em Goiânia, mas todo o processo é feito diretamente com o hospital. Nós não pegamos dinheiro e, em nenhum momento, recebemos qualquer valor em troca de nossos serviços”, afirmou Aquino.

Ele ainda ressaltou que as cirurgias, quando realizadas, são feitas diretamente com a equipe médica, e não com intermediários. “O que a gente fez foi procurar um hospital com bons preços e que pudesse atender essas pessoas, muitas delas já com a saúde comprometida”, completou.
Aquino também se posicionou sobre as alegações de que sua chefe de gabinete, Elisabete Santos, estaria envolvida em negociações irregulares para realizar essas cirurgias. “A Elisabete é minha chefe de gabinete e sempre trabalhou de forma honesta. Ela é uma pessoa muito querida por todos aqui em Águas Lindas. Não tenho nada a esconder sobre isso”, disse Aquino, referindo-se à sua colaboradora. O vereador ainda destacou que está disposto a esclarecer todas as denúncias. “Eu sou um homem público e tenho plena consciência do que faço. Se eu tivesse algo a esconder, não estaria aqui tranquilo, buscando esclarecer tudo isso”, disse o parlamentar.
Em relação ao pagamento pelas cirurgias, Aquino afirmou que o processo no hospital é realizado diretamente pelos pacientes e seus familiares. “Se alguém se dispôs a pagar para fazer a cirurgia de forma particular, fez isso diretamente com o hospital. Não recebemos dinheiro, não fazemos cobranças. O que acontece é que, em algumas situações, as pessoas procuram alternativas de atendimento mais rápido e com valores mais acessíveis, e nós ajudamos a orientá-las a buscar essas alternativas”, completou.
A chefe de gabinete Elisabete Santos confirmou a versão do parlamentar e disse que não procede a história da suposta venda de cirurgias pelo SUS. “Todos os pacientes encaminhados por mim e pelo vereador Luis de Aquino são para atendimento no particular. Levamos sim, muitos deles para fazer cirurgias, mas elas são pagas pelos próprios pacientes diretamente aos hospitais, não só o Santa Lúcia, como também o Santa Catarina e o Hospital Jacob”, declarou.
Questões anteriores no Ministério Público
O parlamentar também foi questionado sobre uma investigação anterior relacionada a seu mandato como presidente da Câmara Municipal de Águas Lindas, que envolvia a apresentação de documentos falsificados. Em 2017, o Ministério Público de Goiás (MPGO) questionou Aquino sobre a suposta falsificação de notas de empenho e recibos de pagamento de diárias. Aquino, no entanto, afirmou que a situação já foi esclarecida e arquivada. “Esse caso foi resolvido, graças a Deus. Conseguimos comprovar todos os cheques e prestações de contas, e hoje estamos zerados na Justiça. Quem não deve, não teme”, enfatizou Aquino, acrescentando que não há pendências em relação a essa investigação. “A verdade sempre vem à tona. Não tenho medo de nada”, concluiu.
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