A apenas 82 km de Brasília (DF), o município de Alexânia tem localização privilegiada, com acesso pela BR-060 e sendo próximo também à capital goiana. É conhecido pelas atrações turísticas voltadas ao ecoturismo, os hotéis-fazenda e alguns empreendimentos que atraem muitos visitantes à região, como o Alambique Cambéba, o Tauá Resort – o maior de Goiás – e o Outlet Premium. Apesar da fama de “cidade pacata” no Entorno e o cenário aparentemente aprazível, o município traz um outro lado que passa despercebido pelos turistas, mas incomoda – e muito – quem vive na região.

Há diversos moradores sem saneamento básico, apesar da promessa do atual prefeito, Allysson Silva Lima (PP), de universalizar o abastecimento de água potável e implantar o sistema de esgotamento sanitário. Segundo o vereador Marques Zedex (PSDB), a distribuição de água até as residências dos alexanienses deveria ser realizada pela Companhia de Saneamento de Goiás S/A (Saneago). “Porém, o contrato está vencido desde 2021, sem ter havido renovação e nem a contratação de outra empresa no lugar”, denuncia. “A Saneago faz o que quer, porque não tem contrato e, consequentemente, não há contrapartida para a comunidade”.

Marques Zedex: indefinição quanto à empresa de abastecimento de água

O vereador Portelinha (PROS) informa, porém, que a prefeitura chegou a abrir um processo licitatório para substituição da Saneago, mas a licitação foi suspensa devido a irregularidades encontradas na nova companhia que faria o abastecimento de água. “O prefeito até tentou privatizar o serviço, só que entramos com mandado de segurança, ao descobrirmos que a empresa a ser contratada já deu calote em outra cidade e não deu conta de cumprir o que estava em contrato”, explica.

Já em relação ao esgotamento sanitário, Zedex diz que não houve investimentos, projetos ou ampliação do sistema. “Nada foi feito! O desenvolvimento de uma cidade depende de um bom tratamento de esgoto e não temos isso aqui”, salienta.

Problemas de infraestrutura

Quanto à drenagem urbana, uma promessa de campanha do prefeito, havia uma verba de quase R$ 1 bilhão disponível para investimento, segundo Zedex, mas, na prática, a cidade continua sofrendo alagamentos durante os temporais. “Quando chove, o asfalto fica tomado de água e abrem-se verdadeiras crateras nas ruas. Não temos escoamento de águas pluviais”, declara. De acordo com o vereador, a maior parte dos recursos destinados à infraestrutura foi utilizada para pagamento de pessoal, restando apenas um valor ínfimo para obras. “O que temos, na realidade, é folha de pagamento inchada”, resume.

Portelinha cita áreas da cidade com erosões e ruas com crateras (Foto: Divulgação)

Portelinha diz que na rua Geraldo Jaime foram concluídas obras de pavimentação asfáltica com drenagem pluvial, mas com a ajudinha providencial dos vereadores. “O prefeito tinha dinheiro em caixa e aprovamos um aditivo de mais de R$ 1,2 milhão”, revela.

Outros bairros, contudo, ficaram a “ver navios”. “Na Nova Flórida nada foi feito e no Setor Sudeste está um caos. Parece a lua, cheio de crateras”, compara. E cita, ainda, as erosões no Setor Norte. “Tem gente morando próximo a essas áreas, com risco de casas caírem”, alerta o vereador.

Apesar desses problemas, há um dado positivo: está sendo realizado o asfaltamento de 4,5 km na Serra do Ouro, que dá acesso ao Lago Corumbá. Para isso, a Câmara Municipal autorizou um empréstimo de R$ 7,6 milhões. “É um local muito visitado por turistas que vêm de Brasília e Goiânia. Sem o asfalto, os moradores e comerciantes estavam sendo prejudicados. Então, esse recurso era necessário. Porém, é possível que o prefeito não pague nenhuma parcela do empréstimo, deixando a dívida para a próxima gestão”, diz Zedex.

Obras de pavimentação na Serra do Ouro (Foto: Divulgação)

Altos e baixos na saúde

Já na área da saúde, o Hospital Municipal de Alexânia passou por reformas, mas, de acordo com Zedex, foram paliativas, pois a estrutura é antiga. “Há infiltrações e o hospital encontra-se em funcionamento sem alvará”, alerta.

Portelinha, por sua vez, aponta que os equipamentos no local são de péssima qualidade. “A prefeitura fez uma lavanderia, reformou o centro cirúrgico e pintou a unidade, mas as cadeiras estão enferrujadas. Há perigo do pessoal que estiver de chinelo cortar o pé. As camas das enfermarias também estão em situação muito precária”.

O hospital passou por reformas, mas tem móveis em situação precária (Foto: Divulgação)

De acordo com o também vereador Rafael Bolinha (Cidadania), essa infraestrutura hospitalar, apesar de não ser ideal, ainda é viável para a população. “Falta muita coisa, mas o hospital não é dos piores”, pondera. “O prefeito reformou esses dias uma unidade, até que passou um pouco do prazo, mas entregou”, admite. No entanto, os postos de saúde precisam urgentemente de reforma. “A unidade da Serra do Ouro, que fica na beira da pista, está caindo aos pedaços. Ali não tem dignidade nem para servidores e nem para pacientes”, acusa Bolinha.

Já o vereador Zedex destaca outro imbróglio na saúde do município: as máquinas de hemodiálise, que foram adquiridas para que pacientes da cidade não precisassem se dirigir a outras localidades para realizar o tratamento. Contudo, esses equipamentos estão armazenados em caixas, num depósito, sem estarem disponíveis à população. “Eu consegui uma emenda parlamentar em 2022, para adquirir essas máquinas. Depois do processo licitatório, o governo não queria recebê-las. Então, eu fiz uma nota pressionando e a prefeitura recebeu, mas sem previsão de colocá-las em funcionamento”, denuncia o parlamentar.

Lixão a céu aberto

Outro problema que não foi resolvido é o lixão, que se encontra em local inadequado, a céu aberto, “praticamente no centro da cidade”, segundo Portelinha. O fato resultou em denúncia na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). “O lixão está próximo à nascente onde é realizada a captação de água que abastece o município”, alerta o vereador. “A prefeitura foi notificada e deram um prazo, para que um outro terreno, mais afastado, fosse desapropriado e utilizado para a deposição de resíduos sólidos”.

Morador do município, no Setor Aeroporto, Edson de Morais encontra-se desempregado e conta as agruras de viver próximo ao lixão. Os quatro filhos pequenos – de 7, 8, 9 e 11 anos – sofrem com a fumaça provocada pela queima do lixo. “Quando eles ‘tacam’ fogo, você não vê mais nada, por causa da fumaça. É muito difícil para nós”, desabafa.

Ele reclama, ainda, da falta de infraestrutura. “Onde eu moro não tem água encanada, eu uso cisterna, não tenho esgoto. Eles não se importam com o nosso setor. A prefeitura vem trazer água para nós, mas é muito complicado, tem que agendar”, relata. Além disso, há dificuldade com o transporte, pois não há ponto de ônibus no local. “Quando as crianças precisam ir à escola, se estiver chovendo, elas ficam molhadas, esperando a condução”, conta Edson.

Com a palavra, a prefeitura

Mesmo com todas as dificuldades nos setores de infraestrutura, saúde e saneamento básico, a prefeitura tem feito a sua parte, segundo o secretário Municipal de Obras Públicas Mateus Henrique Cardoso. “Foram realizadas reforma e ampliação do Hospital Municipal de Alexânia, com aumento de leitos para os pacientes, construção de lavanderia, sala de autoclave e ampliação e reforma da cozinha. Além disso, houve melhorias na sala de raios-x, que recebeu um equipamento digital”, detalha.

Mateus Henrique enumera as obras já realizadas pela prefeitura e futuros investimentos (Foto: Divulgação)

As escolas do município também passaram por reforma e ampliação, de acordo com o secretário. “Foram colocadas mais salas de aulas e construída uma quadra poliesportiva coberta, incentivando a prática de esportes”, informa.

Sobre o imbróglio com a Saneago, Mateus diz que foi solicitada uma licitação para a contratação de outra empresa. “A prefeitura iniciou o processo de concessão de água e esgoto de todo o município. Após a conclusão, a empresa ganhadora, dentro do prazo estipulado, realizará toda a infraestrutura adequada de abastecimento em regiões da cidade”, afirma.

Já em relação às obras de pavimentação e recapeamento, há previsão de investimentos para melhorar a trafegabilidade em vias do município. “O Setor Sudeste tem um projeto finalizado, em análise pela Caixa Econômica Federal, de recapeamento asfáltico, com investimento de aproximadamente R$ 900 mil, oriundo de recursos do tesouro municipal e emendas parlamentares”, diz o secretário.

Outros setores, como Nova Flórida e Povoado da Morada do Sol, entre outros, vão receber futuramente intervenções para melhoria na infraestrutura local, de acordo com o secretário. “Estamos elaborando projetos e realizando tratativas com os governos federal e estadual, em busca de recursos para execução das obras”, conclui.