Uma lupa sobre municípios do Entorno em ano de eleições

27 março 2024 às 14h44

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Em mais um giro por municípios circunvizinhos ao Distrito Federal, a reportagem do Jornal Opção Entorno desta vez ouviu moradores de Novo Gama e Formosa, para verificar os principais problemas que ainda atormentam as populações dessas localidades em ano de eleições.
De acordo com o líder comunitário de Novo Gama, Paulo Rodrigues, a saúde na cidade se encontra em situação preocupante, mas está sendo deixada em segundo plano pelo fato da prefeitura dar prioridade a outras questões que, segundo ele, não são tão urgentes. “O prefeito assina diversas ordens de serviços para a realização de obras que nem sempre são concluídas e poderiam ser deixadas para um momento mais propício, como o portal, que está custando quase R$ 2 milhões para os cofres públicos”, denuncia. “Faltam remédios nos postos de saúde, não temos nosso próprio hospital e sempre contamos com a ajuda da saúde do Distrito Federal, em Gama e Santa Maria, para ser mais específico”.

Para o líder comunitário, outro ponto a ser melhorado urgentemente é o transporte público, ainda de péssima qualidade, em sua opinião. “Entra governo e sai governo, nunca tivemos orgulho da qualidade dos nossos ônibus. Tenho a impressão que a cada ano piora mais; atualmente, nem cobradores temos no transporte municipal, os motoristas que fazem a cobrança”, afirma.
Há, ainda, a falta de saneamento básico e problemas de drenagem de águas fluviais. “Nem todos os bairros têm rede de esgoto completa”, aponta Paulo Rodrigues. “O número de habitantes vêm crescendo bastante e a tubulação antiga não comporta mais, principalmente no bairro Lunabel. Aqui existem poucas bocas de lobos, a água não tem para onde ir quando chove e acaba alagando a casa de quem mora nas regiões mais baixas”.
Obra inacabada
Um dos pioneiros em Novo Gama, o designer gráfico Roberto Lucena conhece bem as dificuldades do município, independentemente da gestão. Da mesma forma que Paulo Rodrigues, ele é contrário ao investimento no portal de entrada da cidade e acredita que as verbas poderiam ser aplicadas em algo de maior relevância para a população. “Enquanto isso, está faltando medicamentos nos postos de saúde e estrutura em áreas mais afastadas da cidade, além de haver alagamento por causa das enxurradas”, enumera.
Lucena aponta, ainda, as construções inacabadas, como o hospital municipal de Novo Gama. “Era uma das promessas de campanha do prefeito. Ele fez o projeto da unidade hospitalar, mas somente agora, no último ano de mandato, está iniciando as obras. Teve três anos para fazer e não fez”, aponta.

Com a palavra, a prefeitura
Em nota, a assessoria de comunicação da prefeitura de Novo Gama esclareceu que o valor da obra do portal da cidade é de R$ 1,3 milhão e argumenta que o empreendimento é necessário para trazer “identidade para o município”. Ainda, de acordo com a nota, esse investimento não prejudicou o fornecimento de medicações no sistema de saúde. “Não procede a informação de que os postos de saúde estão sem medicação; pelo contrário, a Central de Abastecimento Farmacêutico de Novo Gama está com todas as mercadorias em dia e com alto estoque”, diz o comunicado.
Sobre o transporte urbano municipal, a prefeitura, por meio de sua assessoria, salienta que houve investimento no setor. “Quando nós assumimos o município, o transporte municipal era liderado por uma cooperativa. Atualmente, fizemos um chamamento público, a empresa já está atuando com mais de 20 micro-ônibus e tem atendido todos os bairros”.
Já em relação à situação do bairro Lunabel, havia, segundo o informe da prefeitura, uma precariedade ainda maior no local antes que a atual gestão assumisse: “Desde 2021, investimos em mais de 82 km de asfalto em todo o município, enquanto as duas últimas gestões, em 8 anos, fizeram 22 km. Sobre o alagamento do bairro Lunabel, o problema afeta apenas duas ruas; as bocas de lobo estavam entupidas e fizemos a desobstrução. Colocamos mais bocas de lobo no bairro e, mesmo assim, continua a situação de alagamento nessas duas únicas ruas; o problema não afeta todo o bairro”.
Por fim, a prefeitura traz uma perspectiva otimista sobre as obras do hospital municipal e diz que, em 28 anos, esta é a primeira gestão que resolveu viabilizar uma unidade hospitalar para a cidade. “Só agora que o sonho da construção do hospital está se tornando realidade, com o projeto aprovado na Vigilância Sanitária, projeto orçado e edital publicado para contratação da empresa que assumirá a obra”, conclui a nota.
Voçoroca em Formosa

A cidade de Formosa também sofre com situações que demandam soluções urgentes, como processos erosivos às margens de rodovias, segundo alerta o vereador Ciê do Sacolão (Avante). “Tem a voçoroca (tipo de erosão pluvial) próxima à BR-020, rodovia que logo vai ser interditada. E alguns moradores e comerciantes estão revoltados, pois alegam que não foram tomadas providências”.
O parlamentar diz que o problema é antigo, mas tanto a prefeitura quanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) divergem quanto à atribuição de cada um para resolver definitivamente o imbróglio e não deixar que a erosão avance até a BR-020. O DNIT tem realizado, de acordo com ele, bacias provisórias de contenção das águas pluviais, mas não solucionam o problema.

Atendimento precário
A precariedade da saúde pública no município é outro problema recorrente. Segundo a artesã Danubia Luiza Alves Freitas da Paixão, moradora do bairro Jardim Bela Vista, a única forma de obter um atendimento digno, é conhecer pessoas que trabalhem nos postos de saúde e hospitais, para, quem sabe, ter acesso facilitado. “Tem que ir de madrugada para marcar consulta, há poucas vagas e não são feitos exames. É um verdadeiro ‘cabide’ de empregos para funcionários muitas vezes mal preparados para atender os cidadãos”, diz, indignada.
Danubia conta que, desde 2019, tinha recebido um encaminhamento para que médicos avaliassem se seria ou não necessário um procedimento cirúrgico. Entretanto, nunca foi chamada para a consulta e precisou buscar atendimento no Distrito Federal. “Graças a Deus, eu saí daqui e fiz todo o tratamento no Hospital de Base de Brasília”, afirma.

Já quando precisou levar o filho doente para o hospital de Formosa, Danubia passou por um verdadeiro “vaivém”, em busca de um diagnóstico correto. Segundo ela, a médica que realizou o atendimento suspeitou de dengue, mas não pediu exames e já prescreveu a medicação. Insatisfeita, a artesã se dirigiu ao posto de saúde para que procedessem à coleta do sangue para sorologia. Diante da negativa dos atendentes, solicitou o pedido formal do referido exame. Porém, o resultado foi negativo.
Ainda com o filho passando mal, ela voltou posteriormente ao posto para solicitar outro teste, o de Covid-19, mas não havia disponibilidade do procedimento no local. Então, se dirigiu a outro posto e foi informada de que deveria agendar o teste. Inconformada com a resposta, pois sabia que não era necessário marcar esse tipo de exame, insistiu junto à funcionária e foi atendida na mesma hora. “Se eu, que sei quais são meus direitos como paciente, imagine quem não sabe. Nunca vai conseguir ser atendido”, desabafa Danubia.
A prefeitura foi procurada pela reportagem; todavia, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.