Instituições de ensino do Entorno promovem eventos em alusão ao Dia da Consciência Negra
16 novembro 2024 às 12h39
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Escolas e Institutos Federais incluem temas relacionados à história e à cultura afro-brasileira e indígena nos conteúdos pedagógicos, em consonância com a Lei no 10.639/2003. Além disso, atividades como palestras, rodas de conversa e oficinas sobre desigualdade estrutural têm engajado alunos e professores.
Um exemplo desse esforço é o Centro de Ensino em Período Integral (CEPI) Cruzeiro do Sul, em Valparaíso. A convite da equipe pedagógica, Michael Laiso Felix, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito (CEDHIRCOP), realizou palestras sobre preconceito racial e igualdade. Felix conduziu duas apresentações, alcançando aproximadamente 750 alunos, em um momento marcado por reflexões profundas sobre os impactos da discriminação na sociedade e a importância da valorização da diversidade.
Para o presidente do CEDHIRCOP, o preconceito racial é um problema latente, que afeta especialmente os adolescentes. Esses jovens muitas vezes podem ser vítimas ou, sem perceber, acabam reproduzindo comportamentos excludentes. Ele destaca que espaços como os criados pelo CEPI são fundamentais para promover o diálogo e a conscientização. “As palestras fomentam a discussão entre os alunos sobre os problemas do cotidiano, despertando neles a perspectiva de uma consciência negra altiva. É nessa troca de ideias que nasce o respeito pela diversidade e a compreensão do nosso papel coletivo no enfrentamento à discriminação racial”, explica Felix.
Ainda assim, ele ressalta que o enfrentamento às desigualdades raciais precisa ir além de eventos pontuais e se tornar uma prática constante no ambiente escolar. Segundo Felix, “mais do que palestras, as escolas precisam falar sobre preconceito racial e cultura negra de forma transversal e permanente, conforme prevê a própria LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação”. Essa abordagem, de acordo com ele, é essencial para consolidar valores antirracistas na formação dos jovens e garantir que o ambiente escolar seja inclusivo e transformador.
Felix também relembra a conquista representada pela Lei no 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de história da África e cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas. No entanto, ele lamenta que, apesar de sua relevância, a lei ainda não é aplicada de forma efetiva. Para ele, é essencial que a legislação seja plenamente implementada, para que as novas gerações compreendam o papel central do povo negro na formação do Brasil. “Somente com educação consistente e ações práticas, podemos combater os preconceitos enraizados em nossa sociedade e avançar rumo a uma sociedade verdadeiramente igualitária”, conclui.
Consciência Negra na Escola
De acordo com a diretora da instituição, Gislene Mendes Maciel EL-Hassani, a escola está desenvolvendo o projeto “Consciência Negra na Escola”, que tem como objetivo fomentar o diálogo sobre as desigualdades e promover ações educativas. “O projeto está sob a coordenação das professoras Elka e Suelen, junto com os demais professores da área de humanas. A finalidade é realizar uma escuta qualificada na escola e dialogar sobre os desafios relacionados à exclusão social”, explica.
A diretora aponta que a iniciativa abrange atividades como peças de teatro e produções musicais, todas inspiradas pela Lei no 10.639/2003. “Sem dúvida, essa lei é um marco histórico no processo de reconhecimento e valorização da cultura afro-brasileira, além de ser uma ferramenta essencial na luta contra a discriminação racial nas instituições de ensino”, observa Gislene.
Ela também reforça a importância da obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas de educação básica do país, mostrando a contribuição dos negros na formação da sociedade. “Diante disso, o CEPI Cruzeiro do Sul desenvolveu esse projeto para promover práticas sociais, educação em direitos humanos e o enfrentamento às desigualdades, aproximando os jovens da periferia desses temas essenciais”, frisa.
Segundo Gislene, a ideia, por meio dessa iniciativa, é evidenciar a diversidade e chamar a atenção sobre as formas como os preconceitos se manifestam dentro da instituição pública, seja pela violência verbal e física ou pela marginalização e estigma enfrentados pelos estudantes. “Também abordamos como os alunos negros estão sendo tratados na escola pública, questionando se há desigualdade de tratamento, exclusão de determinados grupos e práticas discriminatórias recorrentes”, esclarece.
Intercâmbio cultural no IFG de Águas Lindas
Quem também desenvolveu ações para o enfrentamento do racismo foi o Instituto Federal de Goiás (IFG) – Campus Águas Lindas de Goiás. Foram promovidos debates e atividades educativas voltadas à conscientização.
A coordenadora de Administração Acadêmica e Apoio ao Ensino, Carla Adriana Oliveira Silva, compartilhou algumas dessas iniciativas para marcar o mês da Consciência Negra. “A primeira ação foi realizada no mês passado, durante a nossa Feira de Ciência e Tecnologia, e temos um projeto que está sendo desenvolvido desde o ano passado, de um intercâmbio cultural. Agora, neste mês, fizemos a apresentação do encerramento desse projeto, com um vídeo que reuniu cenas gravadas no Brasil e em Moçambique. Também realizamos uma roda de conversa com os estudantes do período noturno sobre a importância da CPPIR, a Comissão de Políticas de Promoção da Igualdade Étnico-Racial aqui do IFG. Foi uma atividade muito rica, promovendo diálogo e conexão entre Brasil e Moçambique”, detalha Carla.
Ela menciona, ainda, a realização de uma roda de conversa e uma oficina sobre mulheres negras. “Nela, apresentamos várias figuras históricas negras do Brasil, compartilhando suas histórias com os estudantes”, relata. E complementa: “Já para a semana do dia 20, estamos organizando uma exposição fotográfica com personalidades negras. Além disso, teremos uma palestrante que abordará o significado do Dia da Consciência Negra e algumas intervenções culturais dos nossos estudantes”.
Carla salienta a relevância desses eventos para contribuir no combate às desigualdades e à discriminação racial dentro das instituições de ensino. “Essas atividades são muito importantes não somente para cumprir o que determina a lei, mas também porque sabemos que as instituições de ensino ainda são ambientes muito marcados pelo racismo”, observa. “A maioria dos servidores é branca, então é essencial promover esse debate para mostrar a importância do Dia da Consciência Negra e desconstruir o racismo institucional que ainda existe”, finaliza.
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