A conquista da nota 5, a máxima na avaliação do MEC, reflete a excelência da formação oferecida aos 311 estudantes atualmente matriculados e confirma o impacto positivo do curso na vida de alunos das regiões rurais e quilombolas, incluindo diversas comunidades do Distrito Federal, Entorno e Noroeste de Minas Gerais.

Segundo a coordenadora do curso, Cynara Barreto, a nota é resultado de um conjunto de fatores que foram cuidadosamente avaliados pelo MEC. O primeiro aspecto considerado foi o projeto pedagógico (PPC), que inclui uma proposta focada em uma educação contextualizada para o campo e quilombos. “Nosso PPC destaca a importância da alternância entre teoria e prática, da inclusão e do fortalecimento das identidades locais dos nossos estudantes”, explica Cynara. Esse modelo de ensino busca preparar professores que entendam e valorizem as realidades culturais e sociais das comunidades que pretendem atender.

Outro fator crucial para a nota foi o corpo docente, composto integralmente por professores doutores que, de acordo com a coordenadora, são altamente qualificados e “profundamente comprometidos” com a proposta pedagógica. “Isso é visível nas atividades de pesquisa, extensão e orientação de trabalhos de conclusão de curso (TCCs), que envolvem diretamente as demandas dos territórios do campo e quilombolas”, frisa Cynara. Esse compromisso coletivo fortalece a relação da universidade com as comunidades e reforça o objetivo de formar professores com uma visão crítica e transformadora.

Vale destacar que o ingresso na licenciatura é por meio de um vestibular especial, voltado para candidatos de comunidades do campo, assentamentos e quilombos. Esta seleção visa atender à demanda específica dessas regiões, garantindo que a formação oferecida esteja alinhada às realidades locais. Segundo a coordenadora, a mobilização para obter vagas no curso é intensa, envolvendo professores, sindicatos e associações comunitárias.

Foto: Divulgação

Experiência transformadora

A Faculdade UnB Planaltina (FUP) conta com alojamentos exclusivos para os estudantes, Restaurante Universitário (RU), biblioteca e laboratórios bem equipados para diversas áreas, como Artes, Química, Física e Biologia. Além disso, a universidade oferece assistência estudantil, incluindo alimentação gratuita no RU, o que facilita a permanência dos alunos. Toda essa infraestrutura também contou positivamente na avaliação do MEC.

Para Romes Santos Rosa, egresso do curso e morador do quilombo kalunga Vão de Almas, em Cavalcante, na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), a experiência na licenciatura foi transformadora. “Quando cheguei, eu não entendia o que realmente era a educação do campo. Mas, com o tempo, fui aprendendo o valor da nossa história e da nossa identidade. Hoje, sei que a gente precisa conhecer a nossa própria casa, antes de entender a do outro”, analisa. Romes ressalta que o aprendizado obtido lhe permitiu aprofundar seu conhecimento sobre sua cultura e contribuiu para a valorização da identidade quilombola dentro e fora da comunidade.

O curso alia a teoria à prática (Foto: Divulgação)

Ele afirma, ainda, que a formação recebida o capacitou a retornar ao quilombo com uma visão crítica e prática de ensino, inspirada nos ideais de Paulo Freire. “A Licenciatura em Educação do Campo humaniza. É uma escola onde o aluno tem voz, onde se promove uma educação que respeita e fortalece a identidade do campo. Hoje, ensino os alunos a não terem vergonha de suas raízes, a valorizarem a cultura local, como a dança da sussa e o gingado, para que eles possam levar isso adiante sem o preconceito que, muitas vezes, nós mesmos sentíamos”, relata.

A nota máxima do MEC é um reconhecimento do impacto que essa formação causa nos territórios atendidos. “Hoje, somos nós que contamos a nossa história. O curso me fez perceber que nós, educadores do campo, temos o poder de transformar nossas comunidades, de ensinar e liderar sem perder nossas raízes”, conclui Romes.

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