Diego Sorgatto começou sua trajetória política aos 18 anos, se destacando como o vereador mais jovem da história do estado. Desde então, foi deputado estadual e se tornou o prefeito de sua cidade natal, Luziânia, conquistando 75,32% dos votos válidos. A votação reflete a aprovação de iniciativas como a reestruturação do transporte com o Tarifa Zero, e da saúde com Opera Luziânia e Saúde na Sua Porta.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, Sorgatto compartilha detalhes sobre sua recente vitória eleitoral, a relação com outras cidades do Entorno e com o Governo do Distrito Federal. O prefeito discute ainda a importância de ter o apoio do governo estadual para realizar iniciativas inovadoras e melhorar os indicadores de desenvolvimento. 

Ton Paulo — Ao que o senhor atribui a votação expressiva que teve em Luziânia?

Bom, em uma candidatura como a nossa, de reeleição, esse resultado está ligado diretamente à nossa entrega durante a gestão, nesses três anos e nove meses em que estivemos à frente da gestão de Luziânia. Posso citar programas que conseguimos implementar e que se tornaram modelo para outras cidades, para prefeituras de outros estados. 

Uma questão é o transporte público. Conseguimos implementar uma reestruturação completa no transporte público com a política de Tarifa Zero. Foi todo um processo, não foi apenas zerar a tarifa do ônibus. Fizemos a reconstrução do Terminal Rodoviário Municipal, que era um chiqueiro, as pessoas não tinham condição de usar o banheiro. Reconstruímos, colocamos um equipamento público de qualidade para as pessoas poderem utilizar e uma equipe para zelar desse espaço.

Depois nós fizemos a implementação dos novos abrigos nos pontos de ônibus, a começar pela BR-040. Porque ali as pessoas nem utilizam tanto o transporte municipal, mas ficavam ali na margem da BR-040 esperando o ônibus sair às 4h ou 5h para ir à Brasília e não tinham onde se abrigar. Era debaixo de água, debaixo de toldo do comércio, não havia ponto de ônibus. 

Essa reestruturação, com a política de tarifa zero, acho que a gente jogou no topo a política de transporte público de Luziânia. Para vocês terem uma ideia em números do que isso representa, antes, com a tarifa de R$2,90, a média era de 5 mil pessoas por dia utilizando o transporte público municipal. Depois que a gente fez toda essa reestruturação e zerou a tarifa, nenhum dia tem menos de 16 mil usuários. Então, mais que triplicou.

Obviamente, a gente aumentou a oferta do serviço com mais linhas, mais horários. Hoje, temos linhas implementadas e mais veículos. Essa política teve um resultado e senti muito fortemente na campanha o feedback positivo da população. Os nossos adversários, em um momento da campanha, tentaram implementar uma mentira, dizendo que o transporte tarifa zero só ia até a época da eleição, depois ia acabar. E eu até fiz uma proposta que foi para a propaganda de televisão, com a gente dizendo que, além de manter, nós vamos melhorar ele, cada vez mais aperfeiçoando o serviço.

Diego Sorgatto: “Luziânia, no momento mais grave da pandemia, teve o hospital estadualizado. A cidade, que nunca teve nenhum leito de UTI, passou a ter 40” | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Euler de França Belém — Qual é o custo mensal para vocês?

Hoje está em torno de 800 mil reais por mês. É um dos maiores contratos que nós temos hoje na Prefeitura, porque o serviço é terceirizado. Temos limites na administração, limites financeiros, legais, de todas as ordens. Mas a política de Tarifa Zero é algo indispensável, porque dá uma qualidade de transporte para as pessoas que estão utilizando. Implementamos em novembro do ano de 2023. É um contrato de um ano, mas é renovável. Vamos encaminhar para fazer uma nova licitação. 

Euler de França Belém – José Roberto Arruda (PL), quando era governador do Distrito Federal, criou uma relação muito positiva com o Entorno, chegando até a construir prédios para as pessoas nessas cidades. O Ibaneis Rocha continuou isso, ou o Ibaneis foi um recuo?

Acredito que foi um recuo. Eu me lembro no segundo mandato do prefeito Célio Silveira (MDB), quando eu era vereador por Luziânia, que existia o interesse do Arruda em fazer um investimento para construir um hospital materno-infantil em Luziânia. Ele tinha, de fato, esse espírito público. Na época da pandemia, Ibaneis chegou a falar até em construir uma barreira pro cidadão do Entorno não vir buscar os serviços públicos em Brasília. 

Acredito até que ele tenha se arrependido do que falou, mas, de toda forma, é uma ideia absurda. Se você for a Brasília, verá que toda a população que trabalha no ramo de serviços, que entrega o suor todo dia para fazer a cidade funcionar, é o cidadão que mora em Águas Lindas, na Cidade Ocidental, em Valparaíso, no Novo Gama, Luziânia. 

Numa hipótese hilária de se construir uma barreira para manter o Entorno de fora, Brasília para. Quem toca Brasília hoje é a população do entorno do Distrito Federal. Foi uma burrice que ele falou lá, mas  na minha avaliação, da boca para fora, eu tenho certeza que deve ter se arrependido.

Euler de França Belém — O governador Ronaldo Caiado realmente foi o melhor para os prefeitos, como falam?

Com certeza. Eu hoje tenho aliança com o governador Ronaldo Caiado, mas eu posso dizer sem paixão política que o que ele fez para a nossa região foi uma valorização muito grande em várias áreas. Eu te mostro resultados: no passado, Valparaíso e Luziânia já despontaram em nível internacional por seus índices de criminalidade. Hoje, em qualquer lugar da nossa cidade, todo mundo reconhece que a segurança pública melhorou muito. Isso foi, sobretudo, Na gestão do governador Caiado, que deu autonomia para a polícia, que deixou as forças atuarem na nossa região. Lá, nós não acordávamos um dia sem notícias de homicídios. Eram 5 ou 6 homicídios todo final de semana. Usando dados de 2017, Luziânia apareceu como uma das 20 cidades mais perigosas do mundo.


Euler de França Belém — Como está, exatamente, hoje, o cenário de Luziânia nessa questão de segurança pública?

Todos os nossos índices de criminalidade despencaram desse tempo para cá. O único que aumentou, mas isso não é um fator exclusivo da cidade e sim do país,  foi o indicador da violência contra a mulher, violência doméstica. Todos os outros — assalto, roubo, homicídio, latrocínio — despencou bastante. 

Esse é um ponto importante da segurança pública, o suporte do governo do estado. Temos parcerias; a prefeitura investe na minha gestão mais de R$ 4 milhões no programa do banco de horas. Isso nada mais é do que comprar a folga do policial. Se antes havia duas viaturas para patrulhar uma determinada região da cidade, agora há três, quatro. Mais polícia na rua no combate direto ao crime.

Diego Sorgatto em entrevista aos jornalistas Italo Wolff e Ton Paulo | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Italo Wolff — Quais outras parcerias existem?

Luziânia, no momento mais grave da pandemia, teve o hospital estadualizado; eu tive a alegria de relatar essa lei na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Foi um projeto que eu defendi, que eu levei para o governador, que ele abraçou, que ele entendeu. Foi a lei da estadualização do hospital de Luziânia e de outros três hospitais de Goiás no momento mais grave da pandemia que permitiu que nós chegamos a ter 50 leitos de UTI funcionando. Antes disso, nós nunca tivemos um leito de UTI na história da rede pública da nossa região. 

Depois que passou o período de pandemia, continuamos com o hospital estadual funcionando na cidade; mantivemos 10 leitos de UTI. Estamos com o hospital funcionando como um hospital geral de média e alta complexidade. Lá , se fazem cirurgias; implementamos uma maternidade pública moderna, que também é bancado pelo governo do estado. 

No início de minha gestão, Luziânia nem fazia partos, tendo mais de 200 mil habitantes. Hoje são mais de 3 mil crianças nascidas na maternidade do hospital estadual que estariam nascendo em outras unidades de saúde de Goiás ou Distrito Federal. O governador nos ajudou muito na segurança, saúde pública e também na área social.

Tivemos agora, na primeira semana após as eleições municipais, a entrega de mais de 1.200 cartões dos programas sociais relacionados à Agência Goiana de Habitação (Agehab), que é o cartão do Aluguel Social, uma renda extra de R$ 350 por mês. Temos mais de 8 mil famílias beneficiadas com outros programas, como Mãe de Goiás, o Aluguel Social, o Cartão Dignidade, que beneficia a pessoa da melhor idade, e em todas as áreas.

Fui deputado estadual representando a região do Entorno por seis anos, e percebi a atuação da rede estadual de educação com enorme volume de investimentos rede, desde a construção de novas unidades, reforma das que existem hoje, ampliação, valorização do servidor, e até os investimentos diretamente no aluno.

Você vê que o governo do estado hoje dá uniforme e oferece benefícios como uma bolsa de estudos para o aluno, diminuindo a evasão escolar. Antes, os estudantes deixavam de ir para a escola para trabalhar, e percebo que em Luziânia essa bolsa certamente colabora para diminuir a evasão.

Em todas as áreas, houve um volume de investimento que, de fato, valorizou muito a nossa região, e colaborou para melhorar a auto-estima do cidadão do Entorno. Acabou com a conversa de “nem Goiás, nem Brasília”, que sempre ouvimos. O cidadão sempre viveu mais a realidade do Distrito Federal pela atração da capital federal, mas hoje vejo que as pessoas sentem a sensação de pertencimento a Goiás.

Ton Paulo — Sandro Mabel (UB) foi eleito prefeito de Goiânia, e afirmou que quer trabalhar em um sistema de gestão conjunta, integrada com os municípios da região metropolitana de Goiânia. Isso não poderia também acontecer no Entorno? Como é a relação de Luziânia com os municípios vizinhos?

Já há uma integração. Na área de saúde, nós implementamos lá dois programas, um que é o Opera Luziânia e outro que a gente implementou se chama Saúde na Sua Porta. Nós ultrapassamos o marco de mais de 20 mil cirurgias eletivas realizadas pelo programa Opera Luziânia. Para vocês terem uma ideia desse número, isso é mais do que o dobro de cirurgias que foram feitas ao longo dos oito anos da gestão anterior. Muitas pessoas beneficiadas foram de outras cidades. 

Eu não gosto da palavra “Mutirão”, mas foi uma grande escala. Porque o mutirão, às vezes é recebido de forma pejorativa, como se não fosse de qualidade; e os nossos índices de intercorrências estiveram muito abaixo da média nacional em todas as cirurgias. Foi onde a gente conseguiu dar uma melhor qualidade de vida para muitas pessoas. Você pega como exemplo uma senhora que está sem enxergar, que tem a catarata em estágio avançado, ela não tem R$ 15 mil no bolso para pagar uma cirurgia, então ficaria de dois a cinco anos esperando na rede pública sem enxergar. Fizemos nesse programa mais de 8 mil cirurgias de catarata. Esse foi um ponto muito forte, foi muito bem recebido pela população.

Euler de França Belém conversa com Diego Sorgatto | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Italo Wolff — Na educação, como era a situação em Luziânia quando o senhor assumiu a prefeitura, e como está hoje? Há déficit de vagas em creches?

Déficit de vagas em creches é um problema nacional, acontece no Brasil todo. Mas Luziânia é a primeira cidade de Goiás a assinar um pacto pela primeira infância — eu inclusive falei sobre essa experiência na sede do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). É um pacto em que a gente assina um trabalho intersetorial entre algumas secretarias, e no eixo da educação uma das principais atuações foi o aumento da oferta de vagas em creches. 

Nós conseguimos, durante um tempo bem menor do que prometido, criar mais de 2 mil novas vagas na rede municipal de ensino. Conseguimos isso por meio da inauguração de novas unidades,  creche no Alto das Caraíbas, creche no Setor Leste, novos Cmeis, e oito novas unidades escolares, reformamos e ampliamos mais de 30 e estamos agora com o edital aberto de licitação para reformar outras 30. Tudo isso colabora para aumentar a oferta de vagas.

Quando foi aprovado no Congresso Nacional o piso do magistério, vários prefeitos ficaram questionando isso judicialmente. Luziânia foi uma das primeiras cidades a pagar o piso. Quando assumi a gestão lá na prefeitura de Luziânia, o piso do magistério era R$2.500, hoje é mais de R$4.580. Fizemos, além do pagamento do piso, outros dois reajustes durante a nossa gestão para o servidor público efetivo de modo geral, mas que atingem também o servidor da carreira do magistério.

Fizemos um concurso público na nossa gestão, o que não acontecia há mais de oito anos. Hoje, temos mais de 950 professores novos, contratados por esse concurso, o que obviamente nos ajuda a melhorar a qualidade da prestação do serviço. Dessa forma, tivemos uma evolução muito boa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no município: a gente saiu de 4,5 em 2017 e hoje estamos em 5,4, acima da média nacional. 

Italo Wolff — Como estão as finanças de Luziânia? O município ainda tem alguma das dívidas que existiam quando o senhor assumiu a gestão?

Hoje estamos com a casa em ordem. Esse, inclusive, foi um ponto sobre o qual eu falei muito na eleição, na tentativa de comunicar às pessoas o que está acontecendo na cidade. Quando eu assumi, há quase quatro anos, o cenário era desastroso. Peguei a prefeitura de um ex-prefeito irresponsável que ocupou a posição de nosso adversário político e, com a característica da irresponsabilidade, fez tudo o que pôde para inviabilizar o início da nossa gestão. 

Pegamos a Prefeitura com mais de R$ 40 milhões em dívidas, o caixa zerado. Na Fonte 100, que é a fonte da receita própria da Prefeitura, não tinha um real. Dois dias antes de eu tomar posse como prefeito, o ex-prefeito esvaziou o cofre da prefeitura fazendo pagamentos para os aliados dele e até na conta pessoal dele, ele depositou na época mais de meio milhão de reais. E isso aconteceu no pior momento da pandemia do Covid-19, o início de 2021. Foi um dos piores meses com relação ao índice de contaminação, índice de mortes.

Então, assumi nesse cenário, e eu posso dizer para vocês que foi o período mais desafiador de toda a minha trajetória política. Fizemos um esforço, uma grande tarefa fiscal para recuperar os indicadores da prefeitura. A cidade e a população principalmente foram penalizadas por isso, porque não tínhamos sequer a certidão previdenciária em dia, que era requisito para estabelecer convênios, receber a emenda de um deputado federal, aplicar isso em obra ou em programa de saúde. A gente não tinha essa condição. Eu gastei aí o ano de 2022 e meados de 2021 e meados de 2022 para recuperar tudo isso.

Diego Sorgatto: “Fizemos um concurso público em nossa gestão, o que não acontecia há mais de oito anos. Hoje temos mais de 950 professores novos” | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Ton Paulo – Qual foi a colaboração da Câmara?

Temos uma expressiva base de apoio. Nessas eleições municipais, fizemos 100% da Câmara de Vereadores do nosso lado. Eu nunca tive dificuldade quando foi necessário ter o entendimento do Poder Legislativo para enfrentar essas dificuldades. Com a casa em ordem e as contas em dia, a situação é tranquila. 

Italo Wolff – Qual rumo o senhor quer dar para seu segundo mandato? Qual visão o senhor tem para Luziânia?

Saúde pública é uma área que tem o meu coração, a minha sensibilidade, porque mexe com a qualidade de vida das pessoas. Todos esses programas de saúde que a gente conseguiu colocar em prática nesse primeiro mandato, eu pretendo manter e ampliar, além de elaborar novas propostas de saúde. Criar soluções para a saúde é relativamente mais fácil, porque se consegue captar muitos recursos de fontes externas. São programas possíveis de serem bancados com recursos de emendas parlamentares, e como existem as vinculações constitucionais, os parlamentares têm também mais facilidade para buscar dinheiro para bancar programas de saúde.

Além disso, quero melhorar a nossa cidade com relação à questão da infraestrutura. Novas obras de pavimentação asfáltica, recapeamento, construção de meio fio, calçadas, loteamento onde ainda não tem. Precisamos melhorar as redes de drenagem do município, que tem alagamentos quando chove. Nossa região explodiu demograficamente com a construção de Brasília. Antigamente, não tinha critério, o crivo rigoroso que existe hoje; então, no passado, as ruas foram abertas e lotes vendidos sem um mínimo de infraestrutura. Hoje, passamos por esse problema que vem lá de trás. Para isso, penso em buscar recursos através de algum financiamento, porque são obras de relevância para Luziânia, e são projetos de cerca de R$ 150 milhões ou R$ 200 milhões. Isso é uma obra muito cara, mas isso é algo que pretendo levar adiante.

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