Titular da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás (Seapa-GO), Pedro Leonardo Rezende traz um currículo abrangente na área e, assim como o restante da equipe do governo de Ronaldo Caiado (UB), tem um perfil técnico e bem alinhado com a atual gestão.

Graduado em zootecnia, com especialização em produção de ruminantes, além de possuir mestrado e doutorado em ciência animal, Pedro foi presidente da Emater Goiás durante quatro anos, além de ter sido vice-presidente na Região Centro-Oeste da Associação Brasileira das Entidades de Assistência Técnica e Extensão Rural, Pesquisa Agropecuária e Regularização Fundiária (Asbraer).

Escalado para comandar a Seapa em 2023, Pedro tem o desafio de gerir a secretaria cujo setor é um dos mais fortes economicamente em Goiás. De acordo com dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que integram o 12º Levantamento do Boletim da Safra de Grãos, as plantações goianas confirmaram a previsão de recorde e encerraram o ciclo 2022/2023 com uma produção total estimada em 32,6 milhões de toneladas. Com o desfecho, Goiás garantiu a terceira posição no ranking nacional de produtores, ficando somente atrás de Mato Grosso e Paraná.

Um dos destaques do Entorno é Cristalina, que ocupa, atualmente, a 11ª posição no ranking do PIB nacional agrícola. Com mais de 630 pivôs instalados, a cidade é líder em utilização de irrigação na América Latina. Esse resultado se reflete na elevada produtividade, especialmente nas culturas de alho, batata e cebola. Além disso, é um dos grandes produtores de café do Brasil.

Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, o secretário fala sobre a importância do Entorno para o agronegócio do estado, chama a atenção para a atuação da pasta na assistência aos produtores da agricultura familiar e aborda questões relacionadas à infraestrutura e políticas públicas.

Foto: Divulgação

Paulo Henrique Magdalena – Qual a importância da agricultura do Entorno do Distrito Federal para o Estado de Goiás?

Pedro Leonardo Rezende – A agricultura do Entorno é caracterizada pela diversificação das cadeias produtivas. Não só a parte de grãos, mas também a fruticultura. Outra característica importante dessa região é a proximidade com importantes mercados consumidores, como Brasília e Goiânia. Então, nesse sentido, essa região tem se desenvolvido fortemente em cultivo de cadeias produtivas alternativas, principalmente para a agricultura familiar.

Paulo Henrique Magdalena – Algumas cidades do Entorno são destaque no agronegócio, como Cristalina, Formosa e Luziânia. Quais medidas a Secretaria tem adotado para apoiar esses municípios?

Pedro Leonardo Rezende – O Governo do Estado de Goiás, por meio da Seapa, tem buscado elaborar e executar políticas públicas que possam apoiar os produtores rurais em suas atividades, considerando as características produtivas da região do Entorno. A parte logística também é privilegiada. Existe ali uma malha rodoviária que favorece o escoamento de toda a produção e o fluxo de insumos para as propriedades rurais. Políticas públicas, como o programa de aquisição de alimentos para a agricultura familiar, ajudam a colocar esses excedentes nas escolas. O Crédito Rural é também uma política pública executada pela Secretaria. O objetivo é criar facilidades para que os produtores tenham acesso aos recursos necessários para os investimentos nesses sistemas produtivos. Há, ainda, o custeio dessa produção com linhas de créditos diferenciadas por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), principalmente, que possui as melhores taxas de juros e um período de carência apropriado às realidades produtivas dessa região tão importante para o desenvolvimento rural de Goiás.

Foto: Leoiran / Jornal Opção

Paulo Henrique Magdalena – Qual a importância da restauração da GO-309 para o escoamento da produção de grãos do Entorno?

Pedro Leonardo Rezende – Os custos com a logística constituem o principal componente do custo de produção agrícola e agropecuária. Os investimentos que o governo de Goiás tem feito na parte de infraestrutura têm como resultado principal a diminuição dos custos de produção. Uma vez que é mais viável aos produtores transportarem a sua produção e os insumos em condições mais adequadas. Nesse sentido, por meio da Goinfra, o governo estadual tem realizado investimentos em áreas estratégicas para a produção agrícola e o escoamento, com o intuito principal de viabilizar a atividade rural na região.

Paulo Henrique Magdalena – A infraestrutura de transporte disponível para escoamento da produção agrícola dos municípios do Entorno é suficiente para atender a demanda?

Pedro Leonardo Rezende – Na verdade, ela ainda precisa ser aprimorada, para acompanhar o desenvolvimento agrícola dessa região, que é uma das que mais tem crescido dentro da atividade rural de Goiás. Então, a gente reconhece a importância de, cada vez mais, investirmos em infraestrutura, de maneira a acompanhar todo esse desenvolvimento.

Paulo Henrique Magdalena – Quais são os principais desafios enfrentados pelos agricultores locais, tanto em termos de produção, quanto de comercialização?

Pedro Leonardo Rezende – A gente vive um momento de grandes adversidades climáticas, que têm impactado as atividades. Existe toda uma circunstância de custos de produção, gerando impactos também nos custos dos insumos. Há, ainda, a questão do mercado, com a diminuição dos preços das principais commodities que são produzidas nessas regiões. Então, o desafio dos produtores rurais é, cada vez mais, investir em tecnologia que possa proporcionar eficiência econômica à operação, principalmente em momentos de adversidades climáticas, geopolíticas ou questões mercadológicas, os quais interferem fortemente na viabilidade da operação agrícola. 

Pedro Leonardo discursa em evento com a presença da primeira-dama, Gracinha Caiado (Foto: Divulgação)

Paulo Henrique Magdalena – Existe alguma iniciativa de agricultura sustentável ou orgânica sendo implementada nos municípios do Entorno?

Pedro Leonardo Rezende – Uma das políticas públicas que têm recebido investimentos do governo nessa área de sustentabilidade é o próprio Crédito Rural. Por meio do FCO, existem linhas específicas que os produtores podem acessar com taxas de juros reduzidas, desde que eles apliquem esses recursos em atividades econômicas rurais sustentáveis. O produtor que tiver uma prática de sustentabilidade na sua unidade produtiva, poderá ter acesso a essa linha de crédito, com taxas de juros subsidiadas e com períodos de carências diferenciados. Há também uma política pública de estímulo à utilização de bioinsumos, que são os insumos de base biológica cuja característica é diminuir os custos de produção e os impactos ambientais da atividade agrícola.

Paulo Henrique Magdalena – Como a tecnologia está sendo incorporada na agricultura dos municípios do Entorno para aumentar a eficiência e a produtividade?

Pedro Leonardo Rezende – Existem várias tecnologias que estão sendo difundidas não só na região, mas no Estado de Goiás de maneira geral. Há, ali, uma cadeira produtiva que tem se desenvolvido fortemente, que é a fruticultura, a qual depende muito da adoção de tecnologias, como a da irrigação. A região de Cristalina é um exemplo claro disso. É o maior polo de irrigação de Goiás e um dos maiores do Brasil, mostrando o quão é importante se investir em tecnologias que possam ser eficientes não só do ponto de vista econômico, mas também da sustentabilidade ambiental.

Pedro Leonardo no dia de sua posse na Secretaria de Agricultura, ao lado do governador Ronaldo Caiado (Foto: Divulgação)

Paulo Henrique Magdalena – Quais são os impactos socioeconômicos do agronegócio nos municípios do Entorno, em termos de geração de emprego e renda?

Pedro Leonardo Rezende – Essa região é caracterizada fortemente por pequenas propriedades rurais da agricultura familiar. O desafio principal do poder público é proporcionar políticas públicas de inclusão produtiva para esses segmentos, para que a agricultura familiar também possa prosperar diante de todo esse cenário de oportunidades proporcionado pelo agronegócio. A maioria das propriedades rurais de Goiás são de agricultura familiar e essa condição é ainda mais latente na região do Entorno do Distrito Federal e a Ride. Temos buscado investimentos em cadeias produtivas, como a fruticultura. Um exemplo é o projeto do Vão do Paranã, região a qual pretendemos consolidar como o principal polo produtivo de frutas do Brasil. Com o apoio do governo federal, os produtores, principalmente de assentamentos da reforma agrária, têm recebido kits de irrigação e fomento rural, para que possam iniciar as atividades na fruticultura. Inclusive como forma de aproveitar a proximidade com esse importante centro consumidor, que é Brasília. Aliás, a maioria das frutas consumidas em Brasília vem de fora, de outros estados e até de outros países. O que a gente precisa é aproveitar essa oportunidade que é proporcionada pela proximidade desse importante centro consumidor.

Paulo Henrique Magdalena – Existe algum projeto sendo desenvolvido pela Secretaria para apoiar a agricultura familiar dos municípios do Entorno?

Pedro Leonardo Rezende – O programa de aquisição de alimentos (PAA) é uma política pública que tem sido executada pela Seapa. Por meio do PAA, o Governo do Estado de Goiás tem comprado toda a produção de produtores da agricultura familiar, realizando a imediata doação de tudo aquilo que é adquirido a entidades filantrópicas de interesse público. Com isso, a gente auxilia o produtor no momento da comercialização e as pessoas em situação de insegurança alimentar que serão beneficiadas pela doação desses alimentos. Há também o Goiás Social, em que a Secretaria, em parceria com a Emater, realiza cursos de capacitação voltados às cadeias produtivas da agricultura familiar. Os produtores recebem, ainda, um cartão do Goiás Social contendo um valor para adquirir os insumos necessários para iniciar uma atividade econômica ou aprimorar a que estiver em execução na unidade produtiva rural. Uma característica importante dessa política pública é que a maioria das pessoas beneficiadas nessas capacitações, aproximadamente 80%, são mulheres. Esse fator também é relevante na composição da renda da unidade familiar rural.

Discurso em evento promovido pela Prefeitura de Formosa (Foto: Divulgação)

Paulo Henrique Magdalena – Como é o diálogo entre a Secretaria e os municípios do Entorno?

Pedro Leonardo Rezende – A Seapa tem trabalhado fortemente em parceria com a Secretaria do Entorno, pasta cuja atribuição é fazer esse trabalho de articulação com as prefeituras da região. Temos buscado, também, o fortalecimento das agroindústrias de pequena escala, pois são importantes fontes de emprego, renda e arrecadação para os municípios.

Paulo Henrique Magdalena – Quais são os principais projetos desenvolvidos pela Secretaria para apoiar o agronegócio dos municípios do Entorno?

Pedro Leonardo Rezende – Um programa extremamente importante para essa região é o Mecaniza Campo. Por meio dessa iniciativa, a Secretaria tem adquirido equipamentos, tratores e implementos agrícolas para serem doados às prefeituras, a fim de que possam prestar o auxílio necessário aos produtores rurais, principalmente os produtores da agricultura familiar. Os recursos têm sido viabilizados pela bancada federal do Estado de Goiás. É competência da Seapa realizar as licitações para as aquisições desses maquinários e a doação às prefeituras municipais. Esse programa tem sido extremamente efetivo para a melhoria da infraestrutura logística e para a utilização da infraestrutura produtiva das propriedades rurais, especialmente da agricultura familiar. O objetivo é proporcionar inclusão produtiva e desenvolvimento para essa região prioritária.