Assédio e Poder: quando a autoridade destrói sonhos e dignidades
07 dezembro 2024 às 10h51
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Por Márcio Aguiar*
Esta semana, na Universidade de Brasília (UnB), a situação envolvendo o professor Jaime Martins de Santana gerou preocupação. A Comissão de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) concluiu que houve assédio, mas a administração central rebaixou o ato. Essa decisão minimiza os danos às vítimas e subestima a gravidade de um comportamento que deveria ser punido com rigor.
De outra forma, o contraste com a postura do presidente Lula, ao demitir Silvio Almeida, então ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, após denúncias de assédio sexual, ressalta como a resposta institucional pode variar de acordo com a liderança. A decisão foi rápida e categórica, evidenciando que, muitas vezes, as ações contra assediadores são motivadas mais pela pressão externa do que por um compromisso interno com a justiça.
No Entorno do Distrito Federal, o afastamento de um prefeito acusado de importunação sexual em 2020, é outro caso que escancara essa realidade. Nesse caso, a ação do Ministério Público foi crucial para garantir a segurança das vítimas. No entanto, é inquietante saber que o assédio foi possível devido à vulnerabilidade estrutural das servidoras, que se tornaram reféns de uma hierarquia que deveria protegê-las, mas que muitas vezes serve como ferramenta de intimidação.
Esses episódios revelam um padrão alarmante: a autoridade é usada para confundir limites e explorar vulnerabilidades. O chefe, professor ou líder político que assedia, viola a dignidade alheia e também destrói sonhos e carreiras, perpetuando um ciclo de medo e submissão.
Mas por que ainda tratamos o assédio como uma questão individual e não como um problema sistêmico? A cultura institucional muitas vezes é cúmplice ao priorizar reputações e hierarquias ao invés de justiça e acolhimento às vítimas. Não seria hora de perguntarmos se as estruturas de poder que cultivamos realmente protegem os mais vulneráveis ou apenas perpetuam abusos? O assédio não é um ato isolado; é um reflexo de sistemas que silenciam vítimas e premiam agressores com impunidade.
Seria possível construir ambientes onde o poder seja usado para promover, e não destruir, sonhos? Essa é a pergunta que líderes, servidores públicos e a sociedade como um todo precisam responder. Porque, enquanto ignorarmos essas relações doentias, continuaremos assistindo ao sofrimento de quem ousa sonhar em ambientes corrompidos por abusos de poder, por abusadores do poder.
Por fim, combater o assédio exige coragem, integridade e um compromisso genuíno com a transformação institucional.
Estamos prontos para isso?
*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político
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