Por Márcio Aguiar*

O Dia do Evangélico, comemorado hoje, 30 de novembro, traz à tona debates importantes sobre o impacto dessa parcela da população no cenário político local, regional e nacional.

De acordo com dados recentes, os evangélicos representam 33% da população do Distrito Federal, com grande engajamento político e alta capacidade de fechamento de voto. Essa característica os torna um público estratégico para campanhas eleitorais, como demonstrado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), que obteve 43% de intenção de votos entre evangélicos, consolidando uma base eleitoral composta, majoritariamente, por homens, brancos e religiosos.

Apesar desse protagonismo, é importante reconhecer que, numericamente, os católicos ainda são maioria na sociedade. Isso significa que, embora o voto evangélico seja influente, ele ainda não é quantitativamente decisivo. No entanto, sua relevância está na coesão ideológica: é um voto mais alinhado às pautas da direita e que reflete valores morais e sociais promovidos pelos templos religiosos.

No Entorno do Distrito Federal, a influência religiosa na política é ainda mais evidente. Em Santo Antônio do Descoberto, por exemplo, cidade que também celebra o Dia do Evangélico neste dia 30, a política local tem sido marcada por uma alternância entre líderes religiosos. Prefeitos e vereadores evangélicos, católicos, padres e pastores compõem o cenário político, mostrando como a fé e a política estão profundamente entrelaçadas.

Essa relação levanta questões fundamentais sobre o conceito de Estado laico. Embora a laicidade proíba o favorecimento de qualquer credo, a prática política em cidades como Santo Antônio do Descoberto revela como as crenças individuais influenciam diretamente as decisões políticas. É legítimo questionar: a fé dos candidatos deve pautar a política pública em uma democracia pluralista?

Apesar do protagonismo evangélico, é crucial lembrar que o Estado deve permanecer neutro, garantindo a liberdade religiosa sem favorecer ou ser influenciado por nenhuma crença específica. A separação entre religião e política não significa excluir religiosos do processo político, mas sim evitar que convicções pessoais interfiram nas políticas públicas de forma a comprometer a diversidade e os direitos das minorias.

O exemplo de Santo Antônio do Descoberto é simbólico. O nome da cidade, uma referência religiosa, e sua história política demonstram como a religião permeia todos os aspectos da sociedade local. No entanto, cabe aos eleitores e líderes políticos garantir que a fé não comprometa a governança democrática e nem exclua aqueles que não compartilham das mesmas crenças.

Em suma, o voto evangélico é uma força política crescente e legítima em um Estado democrático. Contudo, seu impacto deve ser equilibrado pelo compromisso de candidatos e eleitores com a laicidade do Estado. A celebração do Dia do Evangélico deve servir não apenas para reconhecer sua influência, mas também para reforçar os valores democráticos que garantem o respeito e a liberdade para todos os credos e convicções.

*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político

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