Celina Leão e o Entorno do Distrito Federal como estratégia eleitoral

08 fevereiro 2025 às 10h49

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Por Márcio Aguiar*
Parte essencial dessa estratégia passa pela Região Metropolitana do Entorno (RME), um território politicamente dinâmico e eleitoralmente estratégico, cuja influência pode ser decisiva no pleito.
Sendo assim, Celina tem demonstrado sensibilidade às demandas do Entorno, estabelecendo diálogo com prefeitos e lideranças locais. Esse movimento não é à toa, a RME é marcada por um fenômeno político peculiar: o voto migratório. A cada dois anos, milhares de eleitores transferem seu domicílio entre os municípios goianos e o DF, impactando diretamente os resultados das eleições distritais. Em um cenário de disputa acirrada, conquistar essa parcela do eleitorado pode ser a chave para a vitória.
Historicamente, os eleitores do Entorno são negligenciados pelo governo do DF, apesar de sua interdependência econômica com Brasília. Celina, atenta a essa lacuna, tem buscado um discurso voltado para a integração administrativa entre o GDF e as cidades vizinhas. Ao estreitar relações e oferecer suporte técnico e político aos gestores municipais, ela se posiciona como uma liderança capaz de unir o Distrito Federal e seu entorno em um projeto comum de desenvolvimento.
Os temas prioritários dessas conversas giram em torno de mobilidade, saúde e segurança pública – áreas em que o Entorno depende fortemente do DF. Dessa forma, ao se apresentar como articuladora de soluções para essas demandas, Celina se fortalece junto a um eleitorado que, apesar de residir fora do DF, mantém forte conexão com a capital.
O fenômeno do voto migratório é um fator-chave para entender o interesse de Celina na RME. Muitos eleitores do Entorno trabalham no DF, utilizam seus serviços públicos e, ao longo dos anos, têm transferido seu título para Brasília para participar das decisões políticas que impactam diretamente suas vidas. Após as eleições, uma parcela significativa retorna com o título para suas cidades de origem, reconfigurando o cenário político local.
Essa oscilação eleitoral faz com que candidatos ao GDF precisem se conectar com o Entorno, especialmente aqueles que dependem de uma votação expressiva para superar adversários competitivos. Celina compreende esse movimento e busca consolidar sua influência antes mesmo do início oficial da campanha.
Apesar de sua estratégia promissora, Celina enfrenta desafios consideráveis. A concorrência no campo político será intensa e ela precisará construir um discurso que a diferencie de seus adversários. Além disso, é necessário converter articulações administrativas em apoio efetivo nas urnas, algo que não depende apenas das alianças políticas, mas também da percepção popular sobre sua atuação.
Outro ponto sensível é a relação com o governador Ibaneis Rocha (MDB). Embora seja sua aliada, Celina precisará demonstrar capacidade de liderar um projeto próprio, sem ser vista apenas como continuidade da gestão atual. Se conseguir equilibrar essa equação e consolidar seu apoio na RME, terá um trunfo poderoso para 2026.
Em suma, Celina Leão joga com estratégia no tabuleiro político de 2026. Sua movimentação no Entorno é, além de um gesto de boa vontade, uma jogada calculada para conquistar um eleitorado estratégico e volátil. Se sua articulação administrativa se converter em capital político real, ela poderá emergir como uma candidata forte e competitiva. Contudo, até lá, o cenário ainda reserva muitas peças a serem movidas – e a disputa pelo GDF promete ser uma das mais intensas dos últimos anos.
*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político
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