Por Márcio Aguiar*

A decisão é vista como crucial para garantir que o calendário eleitoral de 2026 não seja contaminado por incertezas judiciais, mas o processo também traz questões complexas sobre a saúde da democracia brasileira.

O relatório da Polícia Federal (PF), base para as denúncias, já indicia 37 pessoas, incluindo 25 militares de alta patente. Entre os crimes apontados estão tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. A Procuradoria-Geral da República (PGR), que ainda analisa o material, pretende consolidá-lo com outras investigações envolvendo Bolsonaro, como as acusações de venda de joias e falsificação de documentos de vacinação.

Do ponto de vista eleitoral, o julgamento é um divisor de águas. Caso Bolsonaro seja condenado, ficará inelegível e poderá enfrentar a prisão. Isso abrirá espaço para novos líderes no campo conservador, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (NOVO-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR). No entanto, a questão é: essas lideranças terão força suficiente para unificar a direita ou testemunharemos uma fragmentação ainda maior do espectro político?

Por outro lado, o STF e a PGR enfrentam um grande desafio. Para o Supremo, o julgamento é uma oportunidade de reafirmar a independência e a imparcialidade do Judiciário e de restaurar a confiança de parte da sociedade nas instituições democráticas. Para a PGR, liderada por Paulo Gonet, o caso exige um equilíbrio delicado entre rigor técnico e neutralidade política.

O julgamento de Jair Bolsonaro não é apenas sobre sua conduta ou a de seus aliados. Ele simboliza algo maior: a capacidade do Brasil de lidar com crises institucionais de maneira transparente e justa. A democracia brasileira, relativamente jovem, já enfrentou dois processos de impeachment com Fernando Collor e Dilma Rousseff, e agora passa por mais um momento delicado que, embora desafiador, representa uma etapa crucial no amadurecimento de nossas instituições.

Em última análise, agora o STF tem diante de si um momento histórico, no qual precisa provar que a democracia brasileira é robusta e que não apenas sobreviveu aos ataques recentes, mas também está pronta para se consolidar ainda mais. Resta saber se as instituições e a sociedade estarão à altura desse desafio.

*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político

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