Por Márcio Aguiar*

Mais do que casos isolados, os episódios refletem um cenário que combina acusações de corrupção, má gestão de recursos públicos e práticas eleitorais questionáveis. Em Valparaíso de Goiás, a retomada do mandato pelo vereador Edson Nunes (PSDB), após 120 dias afastado, escancara o ambiente de tensão política dentro da Câmara Municipal. Ele e sua colega vereadora Cláudia Aguiar (PSDB) acusaram o presidente da Casa, Alceu Gomes (UB), de usar sua posição para retaliá-los após a apresentação de denúncias que envolvem seis vereadores em esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro e desvios milionários.

Sendo assim, este caso, que agora incluiu mandados de busca e apreensão e a queda de Alceu da presidência da casa, revela uma dinâmica institucional problemática: a tentativa de silenciar opositores por meio de medidas administrativas arbitrárias. A situação em Valparaíso de Goiás simboliza o desafio de se fazer oposição em um ambiente onde as práticas clientelistas e os interesses particulares muitas vezes sobrepõem-se ao bem comum.

Na seara eleitoral, a situação em Águas Lindas de Goiás é igualmente alarmante. O prefeito reeleito, Dr. Lucas Antonietti (UB), e sua vice, Aleandra Sousa (Republicanos), tiveram suas contas de campanha rejeitadas por uso indevido de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). A conhecida prática de destinar verba a candidatos e partidos fora da coligação revela desrespeito à Resolução TSE nº 23.607/2019.

Mais do que uma falha administrativa, este caso levanta questões sobre a ética e a legalidade das campanhas políticas na região. A desaprovação das contas e a determinação de devolução dos valores ao Tesouro Nacional são um lembrete de que a Justiça Eleitoral possui mecanismos para coibir abusos.

A Polícia Federal fez pedido para investigar transferências eleitorais suspeitas em Santo Antônio do Descoberto e isso expõe um problema recorrente em municípios do Entorno: a manipulação do eleitorado. Em muitos casos, essas mudanças de domicílio eleitoral visam desequilibrar a balança política, ampliando o poder de determinados grupos às custas da legitimidade democrática.

Os critérios adotados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) são rígidos e reforçam a transferência, o que é positivo. No entanto, as transferências destacam a fragilidade das normas atuais, que, mesmo claras, frequentemente esbarram em interpretações tendenciosas ou na omissão de quem deveria fiscalizar.

Os três casos analisados apontam para uma questão maior: uma crise de confiança nas lideranças políticas do Entorno de Brasília. Em uma região que sofre com a desigualdade social e a falta de investimentos estruturantes, a população depende de gestores que priorizem o interesse público. Contudo, as denúncias em Valparaíso, Águas Lindas e Santo Antônio reforçam a percepção de que as instituições locais estão à mercê de práticas antidemocráticas.

O bambu está gemendo, sim, mas não precisa quebrar. Casos como os mencionados devem servir de alerta e aprendizado para municípios vizinhos. Que a Justiça siga cumprindo seu papel e que os eleitores estejam atentos às práticas de seus representantes. Afinal, a consolidação da democracia passa, inevitavelmente, por uma gestão pública ética e comprometida com o coletivo.

*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político

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