Cavalcante, município da região integrada do Entorno, se destaca por ter representantes quilombolas na política
16 setembro 2024 às 12h26
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A representatividade de algumas parcelas da população brasileira na política ainda é bastante limitada, apesar de não haver qualquer impedimento legal a essa participação. Um exemplo claro são os povos quilombolas, incluindo os Kalungas. No Brasil, dos 462.010 candidatos registrados, apenas 3.558 se identificam como quilombolas, representando 0,77% do total. Em Goiás, esse cenário é um pouco mais positivo: dos 19.673 candidatos aptos, 256 pertencem a esse grupo populacional, o que equivale a 1,29% do total.
Embora esse percentual seja um pouco maior entre os goianos, em relação à proporção nacional, ainda está longe de refletir a diversidade da população, evidenciando a necessidade de maior representatividade desses grupos nas esferas de poder. O município de Cavalcante, na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), tornou-se um marco, nesse sentido, pois seu prefeito, Vilmar Souza Costa, o Vilmar Kalunga (PSB), é o segundo gestor municipal de origem quilombola eleito no Brasil e o primeiro da cidade.
Mais benefícios para os quilombolas
Candidato à reeleição, Vilmar acredita que sua chegada à cadeira do Executivo trouxe benefícios não só à comunidade Kalunga, mas a todo o município, onde mais de 80% da população é descendente de quilombolas. “Conseguimos trazer para cá um campus do Instituto Federal de Goiás (IFG), uma conquista enorme, pois antes as pessoas tinham que sair da cidade para estudar”, ressalta o prefeito, citando um dos destaques de sua gestão. “Muitas vezes, os sonhos dessas pessoas viravam pesadelos, pois os pais ficavam preocupados com os filhos fora de casa”, acrescenta.
Ele também afirma ter investido em veículos adequados para transporte escolar e melhorias nas escolas públicas, com reformas, ampliações e equipamentos adequados. Quanto à infraestrutura, seu foco foi a construção de estradas e pontes, áreas que ele identifica como de grande necessidade para a população quilombola e rural. “Avançamos bastante nas estradas e, na medida do possível, construímos cinco pontes de concreto. A demanda é grande, mas temos feito o possível para atender a todos”, comenta.
Outras realizações foram a regularização fundiária de Cavalcante e a liberação do Portal Norte do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que, segundo o gestor, será um grande motor para o desenvolvimento econômico do município. “Agora, essas áreas serão exploradas e isso irá trazer mais oportunidades, especialmente para os jovens, que poderão realizar seus sonhos sem precisar sair de Cavalcante”, salienta.
Para Vilmar, é fundamental que os quilombolas sejam atuantes politicamente, a fim de que as necessidades da comunidade sejam devidamente atendidas. “Antigamente, a gente só votava e nada mais. Hoje, estou como prefeito e vejo a importância de participar ativamente da política”, enfatiza. “Eu represento muito bem meu povo e luto por melhorias para todos, não apenas para os Kalungas”.
Ocupando os espaços de poder
Natural de Cavalcante, a quilombola Lucilene dos Santos Rosa, conhecida como Lucilene Kalunga (PSB), também tem consciência da necessidade de ocupar as esferas de poder e está se candidatando a vereadora em Goiânia pela primeira vez. Entretanto, ela não é novata em disputas eleitorais, tendo concorrido, em 2022, ao cargo de deputada estadual. “Mesmo sem condições financeiras e sem seguir nenhum padrão político, fiquei na segunda suplência, com mais de 10 mil votos”, relembra. Quase metade desses votos vieram da capital goiana, o que motivou sua candidatura atual à Câmara Municipal da cidade.
Lucilene conta que Goiânia foi o embrião de sua trajetória política e o local onde escolheu para obter melhores oportunidades e estudo, chegando a concluir sua graduação e pós-graduação. “Trabalhei no estado e na Câmara Municipal, sempre atuando na assessoria de comunidades quilombolas e também com ativismo nacional”, conta a candidata. “Agora, podemos fazer uma mudança histórica, sendo a primeira vereadora quilombola eleita em Goiânia”, afirma.
Para ela, os resultados das eleições passadas mostram que a viabilidade de sua candidatura é real. “Estamos construindo esse processo político para isso”, conclui.
Espaço eleitoral para minorias
Segundo o cientista político e diretor da Dominium Relações Governamentais, Leandro Gabiati, a democracia tem como um de seus princípios o respeito e a representatividade das minorias. “Ao mesmo tempo, a essência democrática é construir maiorias para governar, mas essa formação de maiorias não pode inibir a vontade das minorias, principalmente em questões básicas a elas vinculadas”, analisa.
Gabiati também ressalta que é preciso garantir espaço eleitoral para os grupos minoritários. “Mesmo não sendo eleitos, eles podem manifestar seus problemas e suas agendas políticas. E, se forem eleitos, ótimo, pois ocuparão espaços de poder, fortalecendo essas agendas”, pontua. E conclui: “É positivo e importante que a sociedade se manifeste via voto, permitindo que candidatos quilombolas possam defender suas ideias e, quem sabe, conquistar votos que lhes garantam representatividade”.
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