Mercado de produção de peixes no Entorno e no DF está em franca ascensão
27 setembro 2024 às 11h46
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A capital federal apresenta o terceiro maior consumo de pescados do Brasil, ficando atrás apenas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. E isso tem se refletido também na área circundante ao Distrito Federal, fomentando a piscicultura na região. A atividade, um ramo da aquicultura, é caracterizada pela criação de peixes, sendo desenvolvida em pequenas propriedades, mas com grande potencial de crescimento.
Na avaliação da engenheira agrônoma da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO), Suzana Borgmann Santos Rodrigues, o fato dos municípios do Entorno estarem muito próximos a Brasília, facilita a comercialização e a distribuição do produto, com aumento da produtividade e qualidade do pescado. Além disso, existe uma grande demanda por peixe fresco na região, incentivando os produtores a investirem e expandirem suas operações.
Outro ponto importante é o avanço das técnicas de manejo e a adoção de novas tecnologias. A assistência técnica, especialmente da Emater, em Goiás, também desempenha um papel crucial, oferecendo suporte e orientações valiosas aos produtores. “Nosso trabalho consiste em orientar sobre o manejo adequado do pescado, além de apresentar soluções práticas e viáveis que possam ser aplicadas no dia a dia da produção. Estamos sempre em contato com os piscicultores, entendendo suas necessidades e buscando as melhores práticas para garantir uma atividade produtiva e sustentável”, garante Suzana.
Escoamento da produção
Segundo ela, embora os produtores consigam vender bem a produção no comércio local, ainda é necessário escoar uma parte para a capital e outras cidades do Entorno. “Nem sempre o mercado local consegue absorver todo o volume produzido. Então, os piscicultores precisam buscar mercados adicionais para garantir que toda a produção seja vendida. Essa diversificação ajuda a manter a sustentabilidade da atividade e a garantir renda constante para os produtores”, afirma.
As boas condições climáticas e de água na região são também fatores que têm auxiliado no bom desempenho da aquicultura no Entorno. A criação de espécies populares, como tilápia e tambaqui, fazem sucesso nas mesas dos goianos. “O peixe sai fresquinho das fazendas e logo chega aos consumidores, o que ajuda a manter a alta demanda. Além disso, o setor tem gerado muitos empregos e ajudado no desenvolvimento da região, sempre com um olho na sustentabilidade e no uso consciente dos recursos naturais. Isso tem colocado o Entorno de Brasília como um ponto importante na produção de peixes no Brasil”, destaca a engenheira agrônoma da Emater-GO.
Mercado promissor
Já na capital federal, de acordo com dados de 2023 fornecidos pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF), a produção de pescados superou 2 mil toneladas, a maior da história do Distrito Federal, representando um aumento de quase 25% em relação a 2019. Em 2022, foi registrado uma produção de aproximadamente 1.800 toneladas.
Atualmente, existem em torno de 750 piscicultores cadastrados no DF. Deste total, aproximadamente 100 deles exercem essa atividade comercialmente, para venda. A piscicultura é contemplada dentro do programa de aquicultura da Emater, que visa promover o desenvolvimento da atividade na região. “A gente apoia os piscicultores com treinamentos, métodos coletivos, dias de campo, concursos e encontros, focando no manejo adequado e eficiente do peixe. Procuramos maximizar o resultado, ou seja, aumentar a produtividade, reduzir custos e promover o uso sustentável dos recursos disponíveis, seja de água, seja de terra”, detalha o coordenador do programa de aquicultura, Adalmyr Borges, que trabalha na Emater-DF desde 1991 e identificou a possibilidade de utilização de cursos sobre água e pequenos reservatórios que existiam em Brasília para a produção de peixes. “A capital é sempre um mercado promissor, devido à alta renda da população associada à busca por mais saúde e alimentação mais saudável”, observa.
Alta demanda
A tilápia é a espécie favorita dos produtores locais e representa mais de 90% da criação para fins comerciais, havendo alta demanda pelo produto. Este cenário segue uma tendência já existente no restante do país, segundo Adalmyr. Junto a isso, há preferência dos consumidores pelos piscicultores locais, agregando valor ao produto. “Ainda há muito potencial para esse setor em Brasília. Hoje, a produção local não atende ainda nem 10% da demanda existente”, salienta.
O coordenador do programa de aquicultura informa que os produtores podem abastecer desde grandes redes de supermercados e peixarias, até o mercado institucional, seja no âmbito do governo federal ou do DF, atendendo instituições como Forças Armadas, por exemplo, ou fornecendo produtos para a alimentação escolar. “Para atender a necessidade das escolas, a gente teria que, no mínimo, dobrar a produção existente”, avalia.
Profissionalização do setor
Um dos mais conhecidos produtores da capital e engenheiro agrônomo de formação, Eber Maia está à frente da Terra Maré Pescados, tendo iniciado na aquicultura em 2014 por incentivo da sua família, que já tinha uma propriedade adequada para o cultivo. Primeiramente, ele investiu na criação de camarões, passando posteriormente às tilápias, hoje o produto principal.
Segundo Eber, há muitos desafios nesse tipo de empreendimento. “A venda no mercado de Brasília é muito difícil. As pesquisas mostram que o número de peixes produzidos vem aumentando, mas o número de produtores está diminuindo. Só ficam no mercado aqueles que se especializaram e profissionalizaram a produção”, analisa.
Já o presidente da Câmara Setorial de Aquicultura do DF, Guilherme Gonçalves Pereira, da Piscicultura Olimpo, comenta que começou na atividade há uma década. “Essa propriedade era dos meus avós, sou da terceira geração e sempre tivemos muita água. Então surgiu a ideia de gerar renda extra a partir desse recurso. Como sempre gostei de pesca e peixes, investimos no ramo”, relata.
Segundo Guilherme, outros fatores também o ajudaram a tomar a decisão em empreender nesse tipo de negócio, como incentivo de amigos e a constatação da alta demanda pelo produto. “Também busquei capacitação junto à Emater, fui atrás de referências, livros e visitei pessoas que já eram da atividade”, relembra. “Sempre estive ligado ao agro, mas no ramo da pecuária. Na parte de produção de peixes, fui vanguardista na família”, revela.
Ele frisa que, apesar do mercado em expansão, o consumidor não consome apenas pescados produzidos no DF. “Muitos peixes vêm de outros estados e há espécies que nem são de cultivo. Portanto, o produtor tem que se diferenciar, se especializar, produzir com qualidade, se posicionar no mercado e ser competitivo nos preços, porque nada é garantido”, adverte o empresário, que atende a clientes tanto do DF quanto do Entorno.
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