A Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) enfrenta tradicionalmente um período crítico de queimadas durante a estação seca, que ocorre de junho a setembro. Nessa época, a combinação de fatores climáticos, ambientais e humanos favorecem a ocorrência de incêndios florestais, representando um desafio significativo para vários municípios.

A precipitação extremamente baixa ou inexistente, por conta da umidade relativa do ar abaixo dos 30%, resulta em vegetação seca e mais inflamável. Soma-se a isto os ventos fortes, comuns nessa estação, que podem espalhar rapidamente as chamas, tornando os incêndios difíceis de controlar.

Em Goiás, a operação Cerrado Vivo, realizada desde 2022, tem como objetivos a prevenção, preparação e combate aos incêndios florestais. São equipes especializadas, que fazem o uso de drones para monitorar áreas propensas a incêndios. A operação é dividida em duas fases: a primeira, dedicada à prevenção e preparação, ocorre de janeiro a junho; já a segunda fase, que vai de julho a dezembro, é voltada para a resposta e inclui o reforço operacional para combater os focos de incêndio em todo o estado.

Impacto no turismo

A região da Chapada dos Veadeiros é um foco de atenção. Em outubro de 2017 houve um incêndio de grandes proporções na região, destruindo cerca de 35 mil hectares de vegetação do Cerrado.

O prefeito de Alto Paraíso, Marcus Adilson Rinco (UB) afirma que toda a área já está em alerta, para que não haja mais eventos como o de 2017. “Desde o último grande incêndio, nós firmamos uma parceria com o Corpo de Bombeiros, que desenvolve em toda a Chapada dos Veadeiros a operação Cerrado Vivo. Uma equipe fica lá de prontidão desde o mês de julho até dezembro, com equipamentos e veículos, preparada para tentar conter os incêndios já no seu início”, salienta.

Marcus Rinco: equipe preparada para conter incêndios desde o início (Foto: Bárbara Noleto/ Jornal Opção)

Além do Corpo de Bombeiros Militar, a própria prefeitura do município centraliza esforços para a ação. “Esta operação já está confirmada para este ano. Os bombeiros, a partir do mês de julho, estarão presentes. Nós, da prefeitura, disponibilizamos para eles hospedagem e alimentação. Além disso, há o trabalho das brigadas voluntárias, que já estão a postos para atender qualquer necessidade”, destaca.

A economia local também sofre com a perda de recursos naturais, afetando negativamente o turismo e outras atividades econômicas. Além disso, o alto custo para combater incêndios florestais pode desviar fundos de outras necessidades municipais. Marcus Rinco diz que a repercussão negativa é imediata. “Embora seja uma ocorrência natural no Cerrado, a visibilidade da Chapada dos Veadeiros e de Alto Paraíso amplifica esse impacto no turismo, nossa principal atividade econômica” assinala.

Prejuízos ao ecossistema

Com um dos maiores PIBs agrícolas do Brasil, o município de Cristalina também precisa ficar em alerta, já que incêndios podem destruir plantações e pastagens, causando prejuízos financeiros significativos para os agricultores locais. A qualidade do solo e das fontes de água pode ser comprometida, afetando a produtividade agrícola a longo prazo.

A secretária de Meio Ambiente do município, Gabriela Rincon Ligoski, reconhece que é difícil prever e combater as queimadas. “O incêndio é muito complexo, porque acabamos nunca tendo certeza de onde ele vem. Na maioria das vezes, ele é culposo, não é a natureza que incendeia”, aponta. “A gente nunca consegue identificar de fato onde ele começou, e isso dificulta muito o trabalho. Infelizmente, é uma coisa que não temos um bom índice de diminuição. Pode afetar a produção agrícola, as áreas de preservação e também a população da zona urbana. Temos várias doenças que são veiculadas pela fumaça, então afeta todo o ecossistema”, detalha.

Uso de novas tecnologias

Blitz educativa para prevenção de incêndios florestais no DF (Foto: Ana Cecília)

Para proteger a biodiversidade e evitar os prejuízos causados pelas queimadas, o Governo do Distrito Federal (GDF) tem adotado diversas medidas preventivas e de conscientização. Conforme informações da Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal do DF (Sema), em 2023, a área afetada pelo fogo no DF foi reduzida em 70%, em comparação com o ano anterior.

A coordenadora técnica do Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PPCIF/Sema), Carolina Schubart, ressalta que as iniciativas do governo e a participação da população nas ações de combate às queimadas foram fundamentais para essa diminuição significativa. “Estamos trabalhando na seleção de 150 brigadistas distritais, que devem ser contratados no dia 20 de junho para atender principalmente as unidades de preservação distritais em parceria com o Corpo de Bombeiros”, afirma.

Carolina Schubart: redução de 70% da área afetada pelo fogo (Foto: Divulgação)

Outro fator importante é a incorporação de novas tecnologias para ajudar no combate a incêndios florestais: “No ano passado, a Sema, em parceria com a GigaCandanga e com a Universidade de Brasília (UnB), adquiriu quatro câmeras que foram instaladas na Torre de TV Digital e treinadas com Inteligência Artificial. Elas dão um alerta quando veem uma queimada e a gente, da sala de situação da Sema, consegue observar em tempo real o incêndio. Esse foi um grande avanço que tivemos”, conclui.

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