O Jornal Opção Entorno ouviu moradores e o órgão responsável, para saber a real situação. O prefeito de Águas Lindas, Lucas de Carvalho Antonietti (UB), também foi procurado pela reportagem, porém, não atendeu as ligações. Contudo, o espaço segue aberto, caso o chefe do Executivo do município queira se manifestar sobre o assunto.

A Saneago, por meio de nota, informou que o abastecimento em Águas Lindas de Goiás foi normalizado na quarta-feira (24). O fornecimento havia sido temporariamente interrompido devido à substituição de uma bomba no poço do Setor Royal Parque, mas o sistema já voltou a operar plenamente.

Apesar da normalização, a agência fez um alerta à população: o uso consciente das reservas de água tratada é essencial, especialmente diante da pior estiagem enfrentada pelo Brasil nos últimos 44 anos. Em diversas cidades de Goiás, a seca já ultrapassa os 150 dias, sem previsão de chuvas significativas.

Essa situação crítica impacta diretamente a vazão dos rios e poços, que diminuíram drasticamente. Além disso, as altas temperaturas e os recordes de baixa umidade elevaram o consumo de água tanto no meio rural, quanto nas áreas urbanas. A Saneago apontou, ainda, que nos períodos de estiagem, a demanda por água sobe consideravelmente em comparação aos meses de chuva.

Em Goiás, a média de consumo de água tratada no mês de julho – o dado mais recente do período de seca – foi de 10,28 m³ por família, um aumento significativo em relação a janeiro, quando o consumo era de 9,69 m³, período marcado pelas chuvas.

O que diz a população

A costureira Eva Janete Matos de Lima, 62, e moradora de Águas Lindas há 15 anos, relata o sofrimento diário com a falta de água em sua casa, no bairro Morada da Serra. Para ela, o problema persiste há muito tempo, afetando sua rotina e gerando frustração.

Eva descreve a situação como crítica: “Aqui na Morada da Serra, falta água demais. Tem mais de um mês que não cai uma gota no chuveiro de casa”, frisa. Segundo ela, a localização em um ponto elevado agrava ainda mais o problema. “Só de madrugada que chega um pouco de água, mas ela só vai até as torneiras de jardim, não sobe para a caixa d’água que fica lá em cima”, explica.

Eva Janete Matos de Lima: “Já tive que comprar até água para cozinhar, porque não conseguia guardar nem para beber”

Ela destaca, ainda, que esse tipo de problema não é uma novidade e acontece o ano inteiro, mesmo durante o período chuvoso: “De janeiro a janeiro, mesmo com chuva, falta água aqui. Já tive que comprar até água para cozinhar, porque não conseguia guardar nem para beber”.

Eva também menciona a frustração com a falta de respostas e soluções, apesar das tentativas de mobilizar a população: “Todo ano vem repórter, o povo faz vídeo, mas nada muda. Aqui em casa, a água continua do mesmo jeito, sempre faltando. A gente não sabe nem o que fazer mais. Já desisti”, finalizou.

Já Adenilson Santos, morador de Águas Lindas de Goiás há 28 anos, expressou profunda preocupação com a negligência das autoridades municipais em relação à questão da escassez hídrica na cidade. Segundo ele, a falta de ação e a ausência de comunicação eficaz entre os gestores públicos e a população agravam o problema, que afeta principalmente os bairros mais periféricos e vulneráveis. “Não existe nenhuma pauta mais urgente do que a questão ambiental relacionada à escassez hídrica na cidade”, destaca.

Adenilson Santos destaca que a atribuição para gerir o saneamento básico no município é da prefeitura

Ele aponta, ainda, a falta de monitoramento adequado dos níveis de água nos poços artesianos e a inexistência de reservatórios para garantir o abastecimento. Além disso, Adenilson questiona a ausência de campanhas de conscientização sobre o uso racional da água. “Falta comunicação com a população. Existem projetos sendo executados por meio de consórcios com a Caesb e a Saneago, mas a população não tem informações sobre isso”.

Além da quantidade insuficiente de água, ele também questiona a qualidade. “Nós falamos muito da quantidade, mas não temos um tratamento adequado de água, aqui. Não existem padrões de qualidade razoáveis”, aponta. Embora a população costume culpar a concessionária Saneago, Adenilson lembra que a atribuição para gerir o saneamento básico no município é da prefeitura, de acordo com a lei orgânica. Ele finaliza reafirmando que a discussão sobre o problema hídrico fica prejudicada quando se coloca a culpa exclusivamente na empresa e não se cobram os políticos por soluções.

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