Prefeitos e governador de Goiás se manifestam contra o aumento das tarifas do transporte entre o Entorno e o DF

A ANTT justifica os novos valores com base na Resolução nº 2.130/2007. “O contrato prevê atualizações anuais, calculadas com base na variação dos custos dos insumos utilizados na prestação do serviço entre janeiro e dezembro do ano anterior, como combustíveis, manutenção da frota e outros insumos essenciais”, informou a Agência em seu site. 

Desta forma, a tarifa do transporte rodoviário semiurbano interestadual de passageiros irá totalizar um reajuste acumulado de aproximadamente 38,5% desde 2023. E quem vai ser obrigado a arcar com os custos, como ocorre todos os anos, é novamente a parte mais fraca envolvida nessa dinâmica: o usuário.

O analista de sistemas Estevão Cândido, um dos atingidos pela medida, assim como milhares de moradores do Entorno, desabafou à reportagem: “Todo mês é a mesma coisa: aumento aqui, reajuste ali, e o salário continua o mesmo. Esse aumento pesa no bolso de quem depende do transporte todos os dias. Pode parecer pouco, mas no final do mês faz diferença. Eu gasto com ida e volta, então o reajuste impacta diretamente o meu orçamento”. Agora, ele terá de desembolsar R$ 9,15 a cada trajeto.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), não ficou inerte diante da notícia e criticou duramente o reajuste. “Somos contra mais esse aumento na tarifa do transporte coletivo do Entorno do Distrito Federal, definido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e que passa a valer no próximo domingo (23). Já demonstramos que é possível reduzir o valor das passagens e melhorar o transporte coletivo no Entorno, como fizemos na Região Metropolitana de Goiânia. Na nossa capital, a tarifa está congelada em R$ 4,30 desde 2019”, comparou. E complementou: “Seguimos renovando a frota, com veículos elétricos confortáveis, reformando terminais e implantando novas tecnologias para melhorar a experiência do usuário. Queremos que esses benefícios cheguem aos moradores do Entorno”.

Projetos no Congresso

O deputado federal Célio Silveira (MDB) destacou o impacto negativo do acréscimo no orçamento das famílias que dependem desse deslocamento diário. “A população precisa de um transporte digno, não de reajustes que pesam cada vez mais no bolso dos trabalhadores”, frisou. Ele também mencionou que tramitam no Congresso alguns projetos que visam subsidiar as passagens para moradores de áreas rurais e de baixa renda, o que, se aprovado, ajudaria a reduzir os custos.

Sobre possíveis alternativas para reverter o aumento, o parlamentar ressaltou a luta por melhorias no transporte coletivo da região, como a construção do BRT e da linha férrea. Célio Silveira enfatizou que está cobrando medidas concretas no Congresso e junto aos governos de Goiás e do Distrito Federal, para garantir tarifas mais condizentes à realidade da população. “Seguiremos firmes na busca por um transporte público mais eficiente, acessível e justo”, pontuou, acrescentando que temas envolvendo a mobilidade no Entorno estão entre as prioridades de sua atuação na Câmara.

Reunião de emergência

O prefeito de Planaltina de Goiás, Cristiomário Medeiros (PP), falou sobre uma reunião marcada para esta quinta-feira (20), que colocará frente a frente os governadores do Distrito Federal e de Goiás, além dos prefeitos da região, para discutir o reajuste das tarifas de transporte público. “Estamos na expectativa de que haja alguma indicação de solução para essa questão, que depende da criação de um consórcio para ajudar a reduzir o valor das passagens no Entorno”, disse o prefeito. Cristiomário destacou que a medida depende da colaboração dos governos do DF e de Goiás, mas criticou a postura do Governo Federal, que se recusa a participar da discussão.

O gestor também desferiu críticas à ANTT, que tem tido uma relação problemática com as operadoras do sistema, além de ter mostrado, de acordo com ele, desinteresse em ouvir as prefeituras. “Aqui em Planaltina de Goiás, por exemplo, a empresa que opera o transporte possui apenas uma autorização precária, sem que haja uma licitação há anos”, afirmou. Caso a reunião não traga avanços, Cristiomário não descartou recorrer à Justiça mais uma vez para tentar barrar o aumento. Ele reforçou a falta de transparência por parte da ANTT, ao não disponibilizar os critérios utilizados para autorizar os reajustes anuais.

Mobilização contra o reajuste

O chefe do Executivo de Valparaíso, Marcus Vinicius (MDB), por sua vez, tem se mobilizado junto a outros prefeitos da região para evitar o aumento, que impacta diretamente os moradores do Entorno. “Estamos trabalhando com todos os prefeitos e com a Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (AMAB), para que esse reajuste não ocorra. Inclusive, já estamos dialogando com o DNIT, com o Governo do Distrito Federal, com o governador Ibaneis (MDB) e o governador em exercício Daniel Vilela (MDB), na expectativa da reunião de quinta-feira”, afirmou.

Marcus lembrou que o aumento da tarifa não só afeta a população do Entorno, mas também os empregadores do Distrito Federal, que terão de arcar com os custos elevados do transporte dos seus funcionários. “Além disso, temos estudantes e idosos que não recebem subsídio da União. Precisamos rever o transporte da região, que já é precário e, com esse aumento, vai se tornar ainda mais inacessível para a população”, concluiu.

O principal desafio do Entorno

O prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto (UB), também se manifestou sobre o impacto do aumento. Para ele, a mobilidade viária é hoje o principal desafio da região. “Como tenho afirmado em outras oportunidades, o Entorno do Distrito Federal já teve uma época em que o grande desafio era a segurança pública. Atualmente, afirmo categoricamente que é a mobilidade viária entre Goiás e DF”, declarou. “São milhares de passageiros que sofrem diariamente em um transporte de má qualidade e com tarifas muito altas”. Ele citou como exemplo o aumento de mais 35% no valor das passagens no período de um ano, considerando um abuso para os moradores da região.

Sorgatto acredita que somente o subsídio compartilhado entre os governos federal, estadual e do Distrito Federal poderá solucionar definitivamente a questão. “Vejo uma luz no fim do túnel, uma vez que o governo de Goiás já se comprometeu com essa solução e o GDF anunciou, na semana passada, a implantação do Tarifa Zero no transporte público”, salientou.

O gestor expressou sua confiança no Grupo de Trabalho Interfederativo criado pelo Ministério dos Transportes e espera que, com a união dos esforços dos prefeitos da região, a população do Entorno seja beneficiada com a implementação do subsídio no transporte público.

Valor das tarifas a partir de domingo (23):

Planaltina

– Antes: R$ 11,05

– Depois: R$ 11,35

Luziânia

– Antes: variava entre R$ 10,35 e R$ 11,65

– Depois: variação entre R$ 10,70 e R$ 12,05 (trecho até Taguatinga)

Novo Gama

– Antes: R$ 11,70

– Depois: R$ 12,05

Águas Lindas

– Antes: R$ 10,85

– Depois: R$ 11,15

Santo Antônio do Descoberto

– Antes: R$ 10,20

– Depois: R$ 10,45

Valparaíso

– Antes: variava entre R$ 4,90 e R$ 8,85

– Depois: variação entre R$ 5,05 e R$ 9,15

Cidade Ocidental

– Antes: variava entre R$ 5,75 e R$ 9,75

– Depois: variação entre R$ 5,95 e R$ 10

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