Em entrevista ao Jornal Opção Entorno, Cláudia Aguiar afirmou que o afastamento tem clara motivação política, resultado de suas denúncias de supostos esquemas de corrupção na Câmara e no Executivo. “Isso não é uma questão de decoro ou ética, mas uma manobra de retaliação. Meu afastamento foi uma articulação de alguns vereadores e isso ficou claro quando eles passaram a ignorar todos os meus questionamentos sobre as contas públicas e contratações irregulares”, afirmou a vereadora.

Todos os parlamentares mencionados na matéria a seguir foram contatados pela reportagem do jornal, mas até o fechamento não responderam ou retornaram. O espaço permanece aberto para manifestações.

A votação seguiu o regimento interno, com quatro votos favoráveis ao afastamento, dados por Alceu Gomes (UB), Antônio José (PDT), Fábio Moraes (PP) e Flávio Lopes (MDB). Cláudia e os vereadores Tião da Padaria (MDB) e Zequinha (PL) votaram contra, enquanto Zé Antônio (PL) absteve-se e cinco vereadores estavam ausentes.

A vereadora criticou duramente o presidente da Câmara, Alceu Gomes, acusando-o de agir de forma autoritária. Ela afirma que a perseguição se intensificou quando Alceu assumiu a presidência e deu início a uma nova reforma na Câmara, poucos dias após o término da reforma anterior. “Ele contratou essa obra sem consulta à mesa diretora e sem transparência. Foi uma manobra para calar quem questiona a forma como ele está usando dinheiro público”, declarou.

Cláudia também denunciou que Alceu não pode assinar sozinho pela Câmara Municipal; ele precisa da assinatura do primeiro secretário, Zequinha, ou do vice-presidente, Edson Nunes (PSDB). “Tanto Zequinha quanto Edson me disseram que nunca assinaram nada junto com Alceu”, afirmou.

A queixa contra Alceu chegou à Câmara por meio de Adriano Rodrigues, um cidadão do município. Edson, vice-presidente e corregedor da casa, acatou a denúncia por intermédio do Conselho de Ética e da Corregedoria. Segundo Cláudia, “Alceu, então, afastou Edson de forma ilegal e imoral, comprando votos com promessas de empregos e facilitações”. “Ele pressionou o Zequinha e a mim, tentando nos coagir, mas eu me mantive firme. Zequinha, embora relutante, permitiu que Alceu continuasse gastando dinheiro público sem a sua assinatura”, explicou Cláudia.

De acordo com a parlamentar, tentaram também cassar o vereador. “Eu confrontei Alceu e disse que, caso cassassem Zequinha, pediríamos o afastamento dele. Edson acatou minha denúncia e solicitou o afastamento de Alceu. Em vez disso, eles se uniram e afastaram Edson com seis votos, numa ação claramente ilegal. Como represália, Alceu partiu para cima de mim, para me calar. Zequinha, acuado, abriu mão do cargo de primeiro secretário para não perder seu mandato de vereador”, explicou.

Cláudia Aguiar também direcionou acusações ao vereador Flávio Lopes, que foi presidente da Câmara anteriormente. Em um dos episódios mais graves relatados, ela disse que Flávio ameaçou fisicamente o contador da Câmara, Emanuel, durante uma discussão acalorada. “É isso que está acontecendo dentro da Câmara: violência, intimidação e abuso de poder”, revelou a vereadora. E complementou: “Todos sabem o que acontece, mas têm medo de denunciar. Os que tentam falar, acabam sendo afastados ou perseguidos, como no meu caso”.

Reações e desdobramentos

A repercussão do afastamento de Cláudia Aguiar e de suas denúncias está se intensificando em Valparaíso de Goiás. Segundo ela, sua atuação no combate à corrupção gerou uma série de retaliações. Ela afirmou, ainda, que vem sofrendo ameaças constantes desde que tornou pública a existência dos supostos esquemas. “Eles não estão apenas me afastando do cargo. Estão tentando apagar minha voz, para que ninguém mais questione o que acontece dentro daquela Câmara. Mas a população precisa saber a verdade”, declarou.

A parlamentar afirma que tem provas concretas das irregularidades que apontou, incluindo documentos e registros que foram encaminhados ao Ministério Público. “Essas provas estão sendo analisadas e acredito que a justiça vai prevalecer. Meu afastamento é temporário, mas a verdade sobre a corrupção na Câmara de Valparaíso vai aparecer para todos verem”, concluiu Cláudia, destacando que seu trabalho foi movido pela transparência e pelo compromisso com a população.

“Não serei silenciado”

Edson Nunes, que atuou como vereador entre 2021 e 2023, defendeu a vereadora e classificou o afastamento dela como uma retaliação por conta das denúncias feitas contra o grupo dominante na Câmara. Em suas palavras, “esse afastamento é uma vitória para eles, uma retaliação devido à apresentação das denúncias”.

Edson Nunes: “Fui afastado alegando que paguei uma testemunha para depor, mas isso é uma inverdade”

Ele acrescentou que seu próprio afastamento foi resultado de acusações infundadas: “Fui afastado alegando que paguei uma testemunha para depor, mas isso é uma inverdade. Tenho vídeos, imagens e testemunhas que provam o contrário”. Edson reforçou que, enquanto era vice-presidente e corregedor da Câmara, expôs as denúncias em plenário, o que, segundo ele, incomodou a maioria. Ele se comprometeu a continuar apontando as irregularidades. “Não serei silenciado e estou à disposição para falar a verdade e defender a transparência”, concluiu.

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