Por Márcio Aguiar*

Por que, mais uma vez, o policiamento não estava à altura das demandas? A jurisdição do perímetro é do Governo do Distrito Federal (GDF) ou da União?

O Programa de Videomonitoramento Urbano (PVU), que integra o plano “DF Mais Seguro – Segurança Integral”, busca fortalecer a vigilância por meio de equipamentos de ponta e integração de forças. Contudo, apesar das melhorias, como as novas câmeras de alta resolução e o monitoramento em tempo real, falhas operacionais persistem. Afinal, como podem investimentos de R$ 70 milhões não se traduzirem em eficácia prática?

Os recentes esforços do governador Ibaneis Rocha (MDB), com a criação da Divisão de Combate a Atentados Criminosos e Antiterrorismo (Dicac), reforçam o compromisso em proteger Brasília. No entanto, é inevitável perguntar: as forças de segurança do Distrito Federal, consideradas entre as mais preparadas do país, estão realmente sendo utilizadas de forma estratégica?

Um dos pontos centrais dessa discussão é a sobreposição de responsabilidades. Enquanto o GDF é responsável pelo policiamento ostensivo, a União tem o dever de proteger as instituições localizadas na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes. Essa divisão de jurisdição, muitas vezes nebulosa, abre espaço para disputas políticas que deixam a segurança em segundo plano. Quem responde pela ausência de um policiamento preventivo em eventos críticos?

Além disso, o contexto social e político da segurança em Brasília exige uma análise mais profunda. O que impede a criação de protocolos claros para manifestações e eventos na região? A integração entre os 31 órgãos e instituições envolvidas no monitoramento urbano é efetiva, ou estamos diante de mais um exemplo de burocracia que não se traduz em ações concretas?

A Esplanada dos Ministérios é mais do que um símbolo; é o coração político e administrativo do Brasil. A sua segurança deveria ser tratada como prioridade absoluta, mas os episódios recentes mostram o contrário. Será que falta planejamento, investimento em treinamento ou simplesmente accountability das autoridades responsáveis?

A sociedade civil, que participa do eixo “Cidade Mais Segura” do programa de segurança, também precisa de respostas. Quando a sensação de segurança é substituída por incertezas, a confiança nas instituições públicas é diretamente afetada.

Por fim, o questionamento que permanece é: como evitar que Brasília, com todo o aparato tecnológico e humano disponível, continue sendo palco de falhas que comprometem não só a segurança local, mas a própria imagem do Brasil no cenário internacional? É hora de transformar discursos em ações e responsabilizar quem tem o dever de proteger o coração político do país.

*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político

Leia também:

Segurança pública: a influência da escola Caiadista pelo Brasil